sexta, 04 de julho de 2025
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Adulto + e com alto astral


Adulto + e com alto astral

É enorme a preocupação com os idosos nessa caótica pandemia de Covid-19, mas no dia deles, 1º de outubro, vamos elevar o moral com uma trinca de filmes que lança diferentes olhares sobre os sabores e dissabores de ter mais de 60 anos de idade. 

Com elencos estelares, E se Vivêssemos Todos Juntos, Ruth & Alex e Rei dos Ladrões são protagonizados por veteranos, mas reúnem artistas de diversas gerações. Romance, sexo, doença, união, amizade, família, morte e, acima de tudo, sabedoria. 

Divirta-se, emocione-se e aprenda! 


Comédia Dramática
E se Vivêssemos Todos Juntos?/Et si on vivait tous ensemble?

E se Vivêssemos Todos Juntos?/Et si on vivait tous ensemble?

O diretor e roteirista francês Stéphane Robelin (Um Perfil para Dois) não doura a pílula para falar da velhice, mas também não a amaldiçoa com a inexorável sombra da morte, que de resto nos acompanha a todos. Em E se Vivêssemos Todos Juntos, trata o ocaso natural da vida com realismo e respeito, além de se utilizar de um raro e delicado humor para simultaneamente ressaltar e propor uma reflexão sobre os preconceitos que ainda sofrem os membros da terceira idade.

Dos cinco setentões amigos há 40 anos, poderia se esperar até a melhor idade. Afinal, a psicóloga aposentada Annie (Geraldine Chaplin, Fale com Ela) e seu marido progressista Jean (Guy Bedos, Sobrevivendo com Lobos) vivem praticamente numa mansão na região da Grande Paris. A professora de filosofia Jeanne (Jane Fonda, Nossas Noites) e seu marido Albert (Pierre Richard, Perdidos em Paris) tem sua aposentadoria e um belo apartamento. E embora o fotógrafo Claude (Claude Rich, Concorrência Desleal) seja mais modesto e solitário, sabe aproveitar bem a liberdade que os amigos não têm.

Mas como ninguém é imune ao passar do tempo, dentre eles há os esquecimentos do Alzheimer, problemas de coração e um câncer terminal. Quando Claude torna-se hóspede numa casa de repouso por determinação do filho, os amigos vão ao resgate e decidem viver em comunidade na mansão, sob os cuidados do estudante de etnologia Dirk (Daniel Brühl, Rush: No Limite da Emoção). Convencido por Jeanne a transformar o grupo em seu objeto de pesquisa de mestrado, sobre o modo de ‘sobrevida’ dos europeus idosos, Dirk acompanha e registra a convivência dos amigos com um olhar ao mesmo tempo afetuoso e objetivo, que empresta ao espectador.

É Jeanne quem conduz, no entanto, com a naturalidade da experiência da filosofia, as principais indagações sobre a velhice, numa orientação informal ao trabalho de Dirk. Ela se pergunta como é possível o indivíduo e a sociedade não se prepararem adequadamente para a evidente reta final e ignorarem aspectos importantes como a sexualidade entre idosos, que o filme, aliás, evidencia. Assim, a abordagem aberta e crítica do ainda espinhoso tema da velhice se dá com diálogos inteligentes, ora espirituosos ora devastadores, pequenas pérolas que o elenco de estrelas de sua geração transforma em joia preciosa. É impossível não sentir ternura por esse quinteto menos irreverente do que gostaria, ou deixar de ouvir o seu alerta sobre esse amanhã, que deveria começar agora.




Trailer

Ficha Técnica

Título: E se Vivêssemos Todos Juntos?/Et si on vivait tous ensemble?
Direção: Stéphane Robelin
Duração: 96 minutos

País de Produção/Ano: França/Alemanha, 2011
Elenco: Guy Bedos, Geraldine Chaplin, Jane Fonda, Claude Rich, Pierre Richard, Daniel Brühl
Distribuição: Imovision


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Drama Romance
Ruth & Alex/5 Flights Up

Ruth & Alex/5 Flights Up

O título original dessa aparentemente despretensiosa dramédia poderia ser traduzido como Cinco Andares. Quando compraram seu amplo e iluminado apartamento no Brooklyn, em Nova York, há 40 anos, Ruth e Alex não estavam preocupados com a falta de elevador no prédio. Também não imaginavam a crescente gentrificação que transformou o Brooklyn no objeto imobiliário do desejo da jovem elite nova-iorquina.

Adaptação do romance da escritora canadense Jill Ciment, Ruth & Alex paira sobre esses dois tempos e mundos. Agora setentão, o casal reluta em vender seu apartamento e mudar para outro com elevador, por conta de cinco andares. No entreato da difícil decisão, flashbacks e comentários ao modo de vida consumista das novas gerações pontuam passado e presente, não apenas da história de amor e de vida de Ruth e Alex, mas também de sua cidade que nunca dorme.

Diane Keaton (As Rainhas da Torcida) e Morgan Freeman (Invasão ao Serviço Secreto) estão divinos em cena. Ela, como a inquieta e vivaz professora aposentada. Ele, como o sensível e sensato artista, pintor de retratos. Sua corretora é a frenética sobrinha Lily (Cynthia Nixon, Além das Palavras), que prepara um dia de visita ao apartamento, a nova moda do bairro. As figuras que aparecem são uma diversão à parte e endossam a crítica aos novos tempos.

O diretor inglês Richard Loncraine (Acertando o Passo) faz bom uso da fotografia de Jonathan Freeman (Em Defesa de Jacob) e da ótima direção de arte para retratar uma Nova York pujante e acolhedora, nas belíssimas locações externas e esmeradas decorações dos interiores. Mas seu ponto forte é o delicado e raro equilíbrio que imprime ao retratar a inevitável passagem do tempo, com suas alegrias e angústias, algo que ressoa em todos nós. 




Trailer

Ficha Técnica

Título: Ruth & Alex/5 Flights Up
Direção: Richard Loncraine
Duração: 88 minutos

País de Produção/Ano: EUA, 2014
Elenco: Diane Keaton, Morgan Freeman, Cynthia Nixon, Carrie Preston, Claire van der Boom, Korey Jackson
Distribuição: Mares Filmes


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Comédia Dramática Policial
Rei dos Ladrões/King of Thieves

Rei dos Ladrões/King of Thieves

Ocorrido em 2015, o maior roubo de joias da história da Inglaterra inspirou um artigo do jornalista Mark Seal para a revista Vanity Fair, que agora chega às telas como Rei dos Ladrões. O roteirista Joe Penhall (A Estrada) e o diretor James Marsh (A Teoria de Tudo) deram ao filme algo do charme incomparável da trilogia Onze Homens e um Segredo, de Steven Soderbergh, acrescido de um humor satírico à moda de Trapaceiros, de Woody Allen.

Raposas velhas do ramo, nostálgicos das aventuras e boas recompensas dos golpes do passado, Terry (Jim Broadbent, Dolittle), Danny (Ray Winstone, Caçadores de Emoção: Além do Limite) e John (Tom Courtenay, Os Aeronautas) não param de se gabar das façanhas. Nem mesmo no enterro da esposa do elegante Brian (Michael Caine, Despedida em Grande Estilo), o mais bem-sucedido do grupo. Quando o jovem Basil (Charlie Cox, Segredos da Paixão), especialista em alarmes, convida Brian para assaltar a maior loja de diamantes de Londres, Hatton Garden, ele tira a trupe da aposentadoria.

Os planos para o roubo no feriado da Páscoa, com a cidade vazia, incluem ainda um antigo parceiro magrinho (Paul Whitehouse), para passar pelo buraco explodido na parede, e o amalucado Billy The Fish (Michael Gambon, Victoria e Abdul – O Confidente da Rainha), incumbido de negociar a “mercadoria”. Num ritmo cadenciado, típico das produções do gênero, os arranjos e os dois dias de trabalho ocupam a primeira metade do filme, em meio a imprevistos e às constantes gozações de problemas na bacia, nos joelhos, diabete e surdez. 

Mas na segunda metade, o diretor James Marsh desacelera a ação, a trilha sonora e desvia do óbvio. Aproveita o talento inquestionável de seu elenco para retratar com esses gatunos uma experiência ressentida da velhice, em que o quarteto se preocupa tanto em levar vantagem, um sobre o outro, que não se percebe vítima de uma trapaça. O filme recebeu sua dose de crítica por exibir no epílogo imagens dos atores jovens inseridas na narrativa das histórias dos personagens. É mesmo impactante, mas coerente com o relato agridoce a que se propõe.




Trailer

Ficha Técnica

Título: Rei dos Ladrões/King of Thieves
Direção: James Marsh
Duração: 108 minutos

País de Produção/Ano: Reino Unido/EUA/Bélgica, 2018
Elenco: Michael Caine, Charlie Cox, Jim Broadbent, Ray Winstone, Tom Courtenay, Paul Whitehouse, Michael Gambon
Distribuição: Cédric Landemaine


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Fátima Gigliotti

Fátima Gigliotti

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Cinéfila incorrigível, jornalista, editora, professora (não muito), crítica (chatinha) de cinema e audiovisual. Trabalhou no jornal A Folha de São Paulo, na coleção Cinemateca Veja, nas revistas TVA, Ver Vídeo, Set, Querida e Preview.