Manual de Assassinato para Boas Garotas

Uma jovem loira anda pelo meio da rua, sozinha, à noite, em uma área residencial. Quando a câmera a filma de costas, vê-se um rombo em sua cabeça ensanguentada. Está ferida ou é um fantasma? Para quem não leu Manual de Assassinato para Boas Garotas, a saga best-seller da inglesa Holly Jackson, o mistério se instala de primeira na adaptação que chegou há pouco ao catálogo da Netflix. A trama que começa em 2019 avança cinco anos. Aí conhecemos Pip Fitz-Amobi, a protagonista, interpretada pela carismática Emma Myers, da série Wandinha.

Aluna brilhante, filha carinhosa, adolescente com todos os sintomas da idade... e obcecada pelo desaparecimento de Andie Bell (India Lillie Davies), a aparição do início. Para a polícia, o caso está encerrado. O assassino teria sido o namorado dela, Sal Singh (Rahul Pattni), que cometeu suicídio após o crime. Há uma cena crucial no primeiro dos seis episódios, que revela a razão íntima e pessoal pela qual Pip não acredita (ou não quer acreditar) no veredicto. A tal ponto que decide empreender uma investigação por conta própria e apresentá-la como seu trabalho de fechamento de curso – cartão de visita para faculdades.

Enquanto Pip transforma a parede de seu quarto em um painel de colagens digno de delegacia policial, o espectador cria sua própria lista de suspeitos. E são muitos. Pois a jovem Sherlock Holmes escala inclusive o seu Senhor Watson, na figura de Ravi (Zain Iqbal), irmão de Sal e cuja família tem sido brutalmente hostilizada desde o crime. A showrunner Poppy Cogan conhece bem seu público. Manual de Assassinato para Boas Garotas é uma série juvenil no espírito e na forma. O que significa uma bela dose de ingenuidade, imediatismo e impulsividade. Senão, como aceitar o simplismo com que a protagonista escapa de situações reais de perigo. Invasão sem cerimônia na casa de suspeitos, suborno de um traficante para conseguir informações e por aí vai.

A turma de amigos da protagonista é pouco desenvolvida, mas ajuda a movimentar os episódios. A diversidade e a representatividade se fazem presente com naturalidade, sem panfletagem. Como em toda boa trama policial e de mistério, o risco maior é a solução. Embora o caso Andie Bell seja desvendado sem muito entusiasmo, o tema que se destaca no desfecho é mais do que bem-vindo, é necessário. O universo feminino, com todos os desafios que cercam a mulher, aflora em diálogos decisivos que finalmente dão densidade a essa série envolvente, sim, mas que fica na superficialidade a maior parte da narrativa.

Ficha Técnica

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