Desconhecidos

Filmes inspirados em eventos reais costumam atrair a curiosidade do público. Com eles, importante frisar, boa parte dos brasileiros “aprendeu” a aceitar os famosos créditos “Baseado em Fatos Reais” que abriam as obras com essa redundância. Brincadeiras à parte, o recurso tem mesmo um efeito na audiência e Desconhecidos se aproveita disso para deixar um mistério no ar e na sala escura. Apesar da trama se passar entre 2018 e 2020, a produção carrega no clima e estética de produções antigas, foi filmada em película (não é digital) no clássico padrão 35mm e não revela se o caso é verdadeiro ou não. Bateu curiosidade?

Mulher (Willa Fitzgerald) e homem (Kyle Gallner) conversam dentro de um carro em frente a um hotel. Bastante sedutora, ela parece estar mais segura do que ele, que se mostra um tanto misterioso e, ao mesmo tempo, hesitante quanto ao destino daquela noite. Resolvido o impasse, e uma vez dentro do quarto, uma forma de prazer violenta parece provocar um certo mal-estar, ameaça estragar o programa, mas uma nova investida no jogo de sedução recoloca a festa nos trilhos. O que acontece nos momentos e horas seguintes é um longo e, às vezes confuso, sangrento jogo de gato e rato.

De baixíssimo orçamento (cerca de US$ 4 milhões), o filme chega com atraso no Brasil e prêmios dedicados aos gêneros Ficção Científica, Fantasia e Horror, como o Saturno Awards, da academia norte-americana, e Sitges, da Catalunha, na Espanha. Do mesmo produtor de A Garota da Vez (2023), também sobre um assassino serial, e do mesmo estúdio de Entrevista com o Demônio (2023), que tinha essa citada atmosfera do passado, suspense contínuo e também alimentava a dúvida sobre a veracidade ou não da história, Strange Darling (título original) tem dois ótimos protagonistas (Willa Fitzgerald e Kyle Gallner) no elenco, que resgata ainda a veterana Barbara Hershey (Cisne Negro).

JT Mollner dirigiu bem a equipe enxuta e seu próprio roteiro. Ele é simples, mas sua estrutura não linear, que pode incomodar alguns espectadores, tem uma inegável capacidade de prender a atenção. Dividido em seis capítulos e um epílogo, apresentados fora de ordem com flashbacks e flashforwards, a cronologia parece louca, mas a intenção é manter o climão de mistério por mais tempo. Você sabe da existência de um serial killer, não sabe como ele é, e a – oportuna – revelação definitiva promoverá uma virada surpreendente e brutal.

Na boa trilha sonora, aos cuidados da cantora e guitarrista americana Z-Berg, destaque para o duo com o ator Keith Carradine (Nashville) da clássica "Love Hurts" (está no trailer e nesta playlist!), canção country lançada em 1960, mas eternizada na versão power ballad dos roqueiros britânicos do Nazareth, em 1974. Desconhecidos marca a estreia (em um longa) do ator Giovanni Ribisi como diretor de fotografia, que capricha na intensidade das cores primárias (o tal RGB do mundo moderno), em especial, o vermelho. O motivo, claro, é o sangue que será bem explorado neste “caso” que começa à noite e termina pela manhã, com sérias consequências. Agora, resta você decidir se quer conhecê-lo ou não. 

Ficha Técnica

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