Lobos

George Clooney está em fase bem-humorada. Tem se divertido em reencontros com sua turminha da franquia Onze Homens e um Segredo. A amizade de mais de vinte anos com Julia Roberts foi celebrada na comédia romântica Ingresso para o Paraíso (2022), uma bobagem que se sustenta pela química da dupla. Agora é a vez de farrear com Brad Pitt em Lobos, que estreia direto no streaming Apple TV+. O ingrediente do humor é o mesmo: jogo de provocação. Clooney e Julia formaram um ex-casal que não se suporta, mas precisa se comportar no casamento da filha em uma praia da Indonésia. O cenário agora é Nova York. Clooney e Pitt encarnam os “fixers” Jack e Nick, profissionais experts em “consertar” problemas dos outros. E como adianta o título, são lobos solitários. Agem sozinhos, com discrição e método.

Quem bagunça o coreto é o diretor e roteirista Jon Watts, que comandou a trilogia Homem-Aranha com Tom Holland: De Volta ao Lar (2017), Longe de Casa (2019) e Sem Volta para Casa (2021). Ele escala Amy Ryan no papel de uma promotora pública renomada pelo combate ao crime que, veja só, contrata Jack para resolver um probleminha em um quarto de hotel de luxo. O jovem (Austin Abrams) com quem se divertia está estatelado no chão ao lado da cama, no que parece ter sido um acidente. O contrato é limpar a cena. Acontece que a dona do hotel zela pelo empreendimento e o fiscaliza com câmeras secretas. Daí chamar seu “fixer” pessoal, Nick. Desse esdrúxulo encontro nasce uma forçada parceria, com esses dois obrigados a dar cabo do corpo do jovem que, bem, não está tão morto quanto parece.

Drogas, mafiosos albaneses e uma médica que também é uma “fixer”, à sua maneira, estão no caminho da dupla durante as eletrizantes 24 horas em que a trama se desenrola. Clooney e Pitt são feras na provocação mútua. Tiram sarro um do outro, e de si mesmos. Uma dor nas costas aqui, dois óculos de leitura ali e eles esbanjam charme ao brincar com a meia-idade - Clooney tem 63 e Pitt completa 61 em dezembro. A performance dos astros no tapete vermelho do Festival de Veneza, onde o filme teve sua première mundial, arrancou suspiros de fãs e bombou nas redes. Eles sabem que Lobos é puro entretenimento, mas nem por isso atuam no piloto automático.

A presença de Austin Abrams (A Química que Há Entre Nós), como o jovem no lugar errado e na hora errada, é bem aproveitada pelo cineasta. Ele protagoniza uma hilária sequência de perseguição pelas ruas da Big Apple, e ainda guarda uma inocência que enternece seus possíveis algozes, acostumados a lidar só com gente barra pesada. Outro toque espirituoso é a homenagem a Frank Sinatra. O cantor está na trilha sonora e tem uma espécie de santuário na casa de um fã devoto na qual os “fixers” fazem uma parada na reta final. Com Clooney a Pitt também no posto de produtores de Lobos, isso não é mera coincidência. Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr. e outros membros do famoso Rat Pack estrelaram o original Onze Homens e um Segredo, de 1960. O remake de Steven Soderbergh, de 2001, foi a pedra fundamental da amizade entre Pitt, Clooney, Julia, Matt Damon e outros nomes do elenco, que vira e mexe se reúnem para matar as saudades nas telas. O público agradece.

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