O Contador 2

Como você costuma encarar a sequência de um sucesso, com expectativa ou desconfiança? Espécie de praga para muitos espectadores, céticos e cansados de tanta repetição, e tremenda bengala para produtores, maioria de olho no resultado financeiro, a história mostra que o balanço final nem sempre é bom para os dois lados. Enquanto o original custou cerca de US$ 40 milhões e faturou mais de US$ 155 milhões mundo afora, O Contador 2 meio que duplicou o orçamento e chega nos cinemas com a mesma embalagem: personagem principal, elenco e trama semelhante. Será que o saldo é positivo?

Envolvido em outra investigação perigosa, o funcionário do Tesouro americano Ray King (J.K. Simmons) acabou assassinado, mas criminosos também morreram no mesmo episódio e as peças não se encaixam. Uma mensagem deixada por ele faz com que a agente Marybeth Medina (Cynthia Addai-Robinson), contrariada, trabalhe com o contador Christian Wolff (Ben Affleck). Ainda foragido da lei, ele aciona seu irmão Brax (Jon Bernthal), também contrariado, para um trabalho em equipe. Os indícios apontam para uma rede de tráfico humano, mas existe ainda um elemento adicional misterioso, de extremo perigo, que precisa ser identificado.

Realizado pelos mesmos produtores de Agente das Sombras (2022), Jason Bourne (2016) e Argo (2012), The Accountant 2 (no original) tem potencial para atrair o público. Contudo, o roteiro atual é inferior ao primeiro, cuja apresentação do personagem e sua pré-história ao longo da trama injetava força constante. Agora, todos conhecem ele, seu irmão, e a habilidade extrema de ambos com armas e artes marciais. Por conta disso, quem aprecia tiro, porrada e bomba, não vai se decepcionar. Agora, quem curtiu aquela espiral crescente de descobertas vai ter que se contentar com algumas conexões, envolvendo jovens prodígios, e ainda um elemento surpresa, que é uma verdadeira máquina de guerra. Bem dirigidos, Affleck e Bernthal têm química em cenas de ação e no humor suave.

Do mesmo roteirista e criador da ótima série Ozark (2017-2022) e do próprio sucesso O Contador (2016), a ideia de um quebra-cabeça a ser resolvido permanece em O Contador 2 ou O Contador “ao quadrado”, como sugere a criativa brincadeira no cartaz do filme. A diferença é que um protagonista do universo TEA, ligado aos transtornos do espectro autista, já não é novidade. Com isso, o filme parece cair na armadilha de muitas sequências ao se escorar no famoso mais do mesmo em uma trama meio confusa. Agora, os fãs - menos exigentes - de filmes de ação não costumam ligar muito para isso. Portanto, se no seu balancete de entretenimento o “passivo não circulante” de conteúdo importa menos que o “ativo circulante” de ação, sua diversão está mais do que garantida. Boa sessão!

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