Foi como Curly (primeiro à esquerda na foto), um dos Garotos Perdidos de Peter Pan, que George MacKay estreou no cinema, aos 11 anos, em 2003. De mãe inglesa e pai australiano, o ator londrino pavimentou a carreira com passos firmes. Em 2006 dividiu a tela com outro astro mirim, Aaron Taylor Johnson (Kick-Ass), na aventura juvenil O Senhor dos Ladrões, e engrossou o elenco da premiada comédia dramática Orgulho e Esperança, de 2014.
Dois anos depois, seu talento saltou aos olhos como o filho de Viggo Mortensen em Capitão Fantástico. Mas os aplausos vieram para valer em 2019, pelo protagonista de A Verdadeira História de Ned Kelly, que chamou a atenção do diretor Sam Mandes e rendeu o convite para estrela o arrasador 1917. Dá gosto ver a evolução de MacKay, que agora estreia na Netflix com Munique: No Limite da Guerra. O drama histórico retrata os bastidores do último acordo com Hitler. Para quem nunca prestou atenção no ator, que completa 30 anos no próximo 13 de março, reunimos nesta lista quatro filmes que consolidaram sua ascensão, todos disponíveis em streaming. Confira a seguir.
Drama Histórico

Munique: No Limite da Guerra/Munich: The Edge of War
Há na internet inúmeras imagens de Adolf Hitler cercado por Neville Chamberlain, Édouard Daladier e Benito Mussolini após a assinatura do Acordo de Munique, em setembro de 1938. A reunião entre o Führer, os primeiros-ministros britânico e francês, e o ditador fascista italiano foi a última tentativa de evitar uma nova guerra na Europa. O líder nazista recebeu um “afago”: a concessão de parte da Tchecoslováquia. Um ano depois, em setembro de 1939, a Alemanha invadiu a Polônia e deu sequência à política expansionista com a Segunda Guerra Mundial. A produção da Netflix Munique: No Limite da Guerra parte dos fatos para imaginar como teriam sido os bastidores do encontro na cidade alemã e o período que o antecede.
Baseada no romance histórico de Robert Harris, a trama apresenta seus fictícios protagonistas em um prólogo ambientado em 1932, no campus da Universidade de Oxford. Ali estão, bêbados, três estudantes: os alemães Paul (Jannis Niewöhner) e Lenya (Liv Lisa Fries), e o inglês Hugh. Este último é interpretado por George MacKay, estrela ascendente de sucessos como 1917 e Capitão Fantástico. Um papo sobre Hitler provoca uma discussão entre eles, logo abrandada por novos goles. A narrativa então avança para 1938, agora com Hugh como diplomata, pai de família e secretário do primeiro-ministro Chamberlain. Paul, por sua vez, é membro do departamento de relações exteriores da Alemanha, e Lenya... sem spoilers!
A amizade do trio é o fio de sustentação da história, que envereda para o thriller de espionagem com direito a conspiração de assassinato. Jeremy Irons (Casa Gucci) dá vida a um Chamberlain pacifista e crédulo, que teve a postura perante os nazistas criticada por seu futuro sucessor, Winston Churchill, em uma frase célebre: “Você teve a escolha entre a guerra e a desonra. Você escolheu a desonra e terá a guerra!”. A rotina de Hugh no gabinete do primeiro-ministro prepara o terreno para a ação engendrada pela inteligência britânica - o MI6 -, que pretende usá-lo para obter um documento durante a conferência de Munique. Essa movimentação é muito tensa.
O diretor Christian Schwochow perde-se um pouco no ritmo ao tentar abraçar mais do livro original do que cabe nas duas horas e pouco de Munique. A crise no casamento do diplomata britânico é enfadonha e não acrescenta nada. Mesmo as cenas de Chamberlain com a esposa parecem firulas. Melhores são os encontros entre entre Paul e Hitler. Interpretado por Ulrich Matthes, que viveu Joseph Goebbels em A Queda!, o monstro nazista deixa os nervos do funcionário – e do espectador – à flor da pele ao lhe lançar olhares enigmáticos, entre intimidação e admiração. Munique é envolvente, embora convencional, e tem o mérito de iluminar um episódio histórico pouco retratado no cinema.
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Ficha Técnica
TÃtulo: Munique: No Limite da Guerra/Munich: The Edge of War
Direção: Christian Schwochow
Duração: 130 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Reino Unido/EUA, 2021
Elenco: George MacKay, Jannis Niewöhner, Jeremy Irons, Liv Lisa Fries, Sandra Hüller, August Diehl, Ulrich Matthes
Distribuição: Netflix
Drama Guerra

1917
Vencedor dos Globos de Ouro de melhor filme e diretor, e dos Oscar 2020 de fotografia, efeitos visuais e mixagem de som, 1917, de Sam Mendes, é uma produção sem igual, uma experiência imersiva, um tour de force tecnicamente impecável e uma narrativa soldada no elemento humano. Inspirado nas histórias que ouvia do avô veterano de guerra, Sam Mendes criou um enredo aparentemente simples.
Nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), os jovens soldados ingleses Schofiled (George MacKay, Capitão Fantástico) e Blake (Dean-Charles Chapmann, série Game of Thrones) são incumbidos de entregar uma importante mensagem que pode poupar a vida de 1600 combatentes, entre eles o irmão de Blake. Se fosse hoje, bastava uma mensagem de WhatsApp, mas no início do século passado transmitir um recado empreendia uma mão de obra danada e, neste caso, uma corrida contra o tempo.
Do momento em que a câmera capta a planície florida, os soldados em um momento de respiro e o chamado para a missão, a câmera de Sam Mendes não desgruda desses rapazes que vão tentar o impossível. 1917 foi construído como um engenhoso plano-sequência e o espectador segue a dupla em tempo real. Em nova parceria com o fotógrafo Roger Deakins, com quem rodou 007 – Operação Skyfall, Foi Apenas um Sonho e Soldado Anônimo, o cineasta colocou o elenco para ensaiar por seis meses o evento que dura um dia. Os cortes são quase imperceptíveis.
Não há flashbacks e nem tempo para conversas reveladoras nesse épico de guerra. Não se sabe praticamente nada da vida de Schofield e Blake antes da guerra. O que vale é o aqui e o agora. Mas há algo no olhar e na determinação que faz o público colar nesse dois soldados e torcer cada minuto para que eles cheguem ao destinatário.Os astros Benedict Cumberbatch, Mark Strong, Andrew Scott, Richard Madden, Claire Duburcq e Colin Firth fazem participações especiais nesse caminho árduo e repleto de contratempos. 1917 pede para ser visto e revisto, porque é na imagem final que o espectador se dá conta da sofisticação do roteiro e da construção de cenas que tomam outra dimensão e significado quando analisadas como um todo.
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Ficha Técnica
TÃtulo: 1917
Direção: Sam Mendes
Duração: 120 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Reino Unido/EUA, 2019
Elenco: George MacKay, Dean-Charles Chapman, Mark Strong, Andrew Scott, Richard Madden, Claire Duburcq, Colin Firth, Benedict Cumberbatch
Distribuição: Universal Pictures
Drama Biografia

A Verdadeira História de Ned Kelly/True History of the Kelly Gang
Contemporâneo de Billy The Kid, o lendário fora da lei do Oeste americano, o australiano Ned Kelly também se tornou figura mitológica no século 19. Foram ambos bandidos muito jovens, de trajetória violenta e final trágico. O roqueiro Mick Jagger (Tudo Pela Arte) deu vida ao personagem em 1970, em A Força Será Tua Recompensa, e o saudoso Heath Ledger (Batman: O Cavaleiro das Trevas) em Ned Kelly, de 2003. Agora é a vez do inglês George MacKay apresentar a lenda para as novas gerações. O ator que tirou nosso fôlego como protagonista de 1917 entrega outra atuação visceral em A Verdadeira História de Ned Kelly.
Há uma aura de ópera pop na versão do diretor Justin Kurzel (Macbeth: Ambição e Guerra) para o romance histórico de Peter Carey. Mais interessada na construção do mito do que em sua rotina de crime, a produção coloca em contexto a Austrália de meados do século 19. Imigrantes irlandeses eram tratados como escória pelos colonizadores britânicos naquela terra que tomou forma como uma gigantesca colônia penal. O pai de Kelly chegou como ladrão deportado da Irlanda, e manteve a vida errante em solo australiano. Esse disparate social dá peso à saga do protagonista.
O pequeno Ned Kelly (o excelente estreante Orlando Schwerdt) tem bastante tempo em cena. É através dele que conhecemos sua mãe, Ellen (Essie Davis, Assassin’s Creed e esposa de Kurzel), mulher exuberante e sofrida que presta “serviços sexuais” a oficiais ingleses para alimentar a família. A estreita e conturbada relação entre mãe e filho é gatilho da transformação do garoto em pária. A formação da gangue é meio atropelada, assim como o romance com a prostituta ninfeta vivida por Thomasin McKenzie (a garota no sótão de Jojo Rabbit).
O elenco de apoio é de luxo: Russell Crowe (Boy Erased: Uma Verdade Anulada), Charlie Hunnam (Magnatas do Crime) e Nicholas Hoult (Tolkien) fazem figuras influentes no cruel destino do fora da lei. Apesar do livre arbítrio, Kelly não deixa de ser vítima de uma sociedade que lhe privou do mínimo. É triste ver o olhar curioso do menino se perder nos olhos vidrados de desespero e fúria do Kelly adulto. E a batalha final é apoteótica.
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Ficha Técnica
TÃtulo: A Verdadeira História de Ned Kelly/True History of the Kelly Gang
Direção: Justin Kurzel
Duração: 124 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Reino Unido/Austrália/França, 2019
Elenco: George MacKay, Essie Davis, Nicholas Hoult, Russell Crowe, Charlie Hunnam, Orlando Schwerdt
Distribuição: A2 Filmes
Comédia Dramática

Capitão Fantástico/Captain Fantastic
POR FÁTIMA GIGLIOTTI
Ben (Viggo Mortensen, Green Book - O Guia) nunca deixa seus seis filhos, de 7 a 18 anos, fazerem citações de livros sem usar as próprias palavras. Todos falam mais de uma língua, os mais velhos sabem até esperanto. Eles caçam o próprio alimento e plantam as próprias verduras. O treinamento matinal inclui técnicas de defesa e é rigorosamente cronometrado. À noite, relaxam lendo e tocando os mais variados instrumentos. A família vive em uma floresta no Noroeste dos Estados Unidos. A mãe das crianças sofre de transtorno bipolar e está internada e aos cuidados dos pais.
Não é spoiler revelar seu suicídio, pois o funeral e a despedida da esposa e da mãe será o divisor de águas para Ben e sua prole, que ele escolheu educar longe da civilização, numa versão contemporânea e voluntária do aventureiro Robinson Crusoé em sua ilha. Ben acreditava que a viver na natureza poderia ajudar a mulher a superar a doença. Todo o preparo físico e intelectual não evita o choque dos filhos em seu primeiro contato maior com a realidade urbana e as famílias paternas e maternas. Capitão Fantástico evidencia o contraste dos dois modos de vida de maneira radical, mas, como na vida, será preciso encontrar um meio-termo para seguir em frente.
É admirável como o ator Matt Ross (Boa Noite e Boa Sorte), em seu segundo filme como roteirista e diretor, criou uma espirituosa fábula sobre a modernidade - densa e lírica, comovente e irônica, transbordante de sentidos. Além da severa crítica ideológica, Capitão Fantástico faz da morte da mãe dessa família afetiva e “primitiva” a metáfora da destruição da natureza pelas relações de consumo e do capital, da substituição do calor humano pelas redes da tecnologia.
O registro de Matt Ross, no entanto, é o da sutileza e inteligência, o que torna seu filme ainda mais encantador e merecedor do prêmio de melhor direção na mostra Um Certo Olhar em Cannes 2016. A indicação ao SAG (sindicato dos atores) de melhor elenco e de Viggo Mortensen ao Oscar também refletem o brilho e a entrega dos atores. Com tanto a oferecer, Capitão Fantástico narra em seu âmago a história de um pai que, mesmo abalado pelo luto, só deseja amenizar a dor e cuidar bem de seus filhos, ainda que à sua maneira pouco ortodoxa.
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Ficha Técnica
TÃtulo: Capitão Fantástico/Captain Fantastic
Direção: Matt Ross
Duração: 118 minutos
PaÃs de Produção/Ano: EUA, 2016
Elenco: Viggo Mortensen, George MacKay, Samantha Isler, Annalise Basso, Nicholas Hamilton, Kathryn Hahn, Steve Zahn, Frank Langella
Distribuição: Universal Pictures