Na manhã de 27 de março de 1995, Maurizio Gucci foi morto com quatro tiros na entrada da sede da Gucci em Milão. Isso é fato, não spoiler. O badalado Casa Gucci não investiga o crime, mas a cadeia de eventos que culminou na trágica emboscada contra o herdeiro da icônica dinastia da moda italiana. Agora a pergunta que não quer calar: Lady Gaga convence como a “viúva negra” Patrizia Reggiani? Sim. Ok, seu esforço pode não soar natural, mas é notável. Mesmo porque nada soa natural nessa opereta shakespeariana travestida de novelão mexicano. Quem entrar no clima fake e não se incomodar com o inglês “italianado” do elenco estelar pode se entreter com a superprodução comandada por Ridley Scott.
Casa Gucci se emparelha com Todo o Dinheiro do Mundo, também do cineasta, no retrato do ser humano corroído pela ganância e o egoísmo. O roteiro adapta o romance homônimo de Sara Gay Forden (relançado aqui pela Seoman), um calhamaço de mais de 500 páginas fruto de uma extensa pesquisa histórica sobre a marca e a família Gucci. A trama é ancorada em uma história de amor. A fogosa Patrizia Reggiani (Lady Gaga) conhece o tímido Maurizio Gucci (Adam Driver) em uma festa. O match perfeito? Não aos olhos do pai dele, Rodolfo (Jeremy Irons), que vê uma alpinista social na filha do dono de uma empresa de caminhões. Maurizio abre mão da fortuna, casa com Patrizia e passa a trabalhar para o sogro. Mas a esposa tem planos bem mais ambiciosos para ela e o marido.
Sua porta de entrada no clã Gucci será Aldo (Al Pacino), irmão de Rodolfo. Descrente da capacidade do filho, o estilista frustrado Paolo (Jared Leto irreconhecível sob maquiagem), Aldo aposta suas fichas em Maurizio como braço direito nos negócios. Está armado o circo. São 2h37 minutos de saga familiar, com sexo, glamour, intriga e traição. Embora a moldura seja luxuosa, com cenários, figurinos e maquiagem dignos de Oscar, além da trilha com hits do pop dos anos 80 e 90, Gasa Gucci carece do primordial: humanidade. Ridley Scott tem um elenco nota 10 a seu dispor, mas ninguém escapa ou da teatralidade – caso da intensa Patrizia de Lady Gaga e do bufão Paolo de Jared Leto –, ou da apatia – nas atuações de Adam Driver e Jeremy Irons.
O melhor em cena é Al Pacino, que transforma seu Aldo Gucci em uma versão patética do icônico Michael Corleone. Isso sem contar a equivocada personagem de Salma Hayek, a vidente Pina Auriemma, que arquitetou o assassinato com Patrizia. Ser uma história real é sempre um atrativo extra, mas falta contextualizar o que era o império Gucci na indústria da moda naquele período. Em vez disso, a narrativa se embrenha apenas nos conflitos internos que resultaram na tomada de poder de Maurizio e na venda da maison para um conglomerado de investidores. Curiosamente, o marido de Salma Hayek, o magnata François-Henri Pinault, é um dos donos da Gucci hoje. O filme cobre a chegada do texano Tom Ford como diretor criativo da marca em 1994, o que rende ao menos um glamoroso desfile. Para os fãs da grife e da moda, é pouco. Desta vez, Ridley Scott escorregou na passarela.
Trailer
Ficha Técnica
Título: Casa Gucci/House of Gucci
Direção: Ridley Scott
Duração: 157 minutos
País de Produção/Ano: EUA/Canadá, 2021
Elenco: Lady Gaga, Adam Driver, Al Pacino, Jeremy Irons, Jared Leto, Jack Huston, Salma Hayek, Camille Cottin, Reeve Carney
Distribuição: Universal Pictures
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