O elenco de Solos é excelente, assim como a ideia da Amazon de ter sua própria Black Mirror, produção original da Netflix que está na 5ª temporada. O criador, David Weil, é o mesmo de Hunters, com Al Pacino à frente do elenco. Aqui ele tem um contexto forte a se explorar: o isolamento, a solidão, o medo, a falta de perspectiva, a memória (ou a falta dela) – sintomas pungentes e característicos desse período caótico de pandemia de Covid-19. Mas não estamos no presente. Weil envelopa os 7 episódios com uma realidade futurista em que a tecnologia, embora mais avançada, dá sinais de que não se passou tanto tempo assim.
Ambientada em um único cenário, com no máximo dois personagens, cada parte tem cerca de 20 minutos e o ponto de largada é a voz de Morgan Freeman fazendo uma pergunta existencialista. “Se você viajar para o futuro, conseguirá escapar do seu passado?”, “A ameaça externa é maior que a interna?” e “Você gostaria de cancelar o pior dia da sua vida?” são algumas delas. Começa com Anne Hathaway (Convenção das Bruxas) como uma cientista obcecada por viajar no tempo, enquanto sua mãe padece de demência. O projeto tem êxito, porque às tantas ela entra em contato com seu “eu” em tempos diferentes.
Anthony Mackie (O Banqueiro) também contracena consigo mesmo, no caso com sua cópia robótica. O episódio mais estranho traz Nicole Beharie (Monstros e Homens) como a mãe que dá à luz um bebê prematuro, fruto de alguma empresa especializada em reprodução artificial. Só que em poucos minutos o menino cresce exponencialmente, o médico responsável avisa que deu algo errado e, pior, que o exemplar é altamente perigoso.
Uzo Aduba (série Orange is the New Black) e Constance Wu (Podres de Ricos) estrelam monólogos sobre medo e culpa. A primeira se retirou da vida social há 20 anos por causa de um vírus, se recusa a sair de casa e tem discussões acirradas com o atendente virtual que tenta convencê-la de que não há mais perigo. A outra está na sala de espera de uma empresa que apaga memórias, e faz um desabafo sobre o que deseja esquecer. O monólogo de Helen Mirren (A Grande Mentira) é o mais tocante. Sua personagem está em uma cápsula espacial e fala com o computador da importância daquela viagem. Falta de autoestima, tragédias pessoais, remorso e envelhecimento são abordados em um texto arrebatador.
Morgan Freeman (Despedida em Grande Estilo) e Dan Stevens (O Homem Que Inventou o Natal) fecham a antologia em um emocionante acerto de contas, porque o personagem de Freeman fora outrora um ladrão de memórias e Stevens, uma de suas vítimas. Todos os episódios, sem exceção, são muito bem escritos e o espectador vai se dando conta de que os personagens estão conectados. A qualidade das atuações, então, nem se fala. Qual é o problema de Solos, afinal? Diferente de Black Mirror, que retrata os males da sociedade e do ser humano com humor sarcástico, Solos é só melancolia. A regra é chorar (todos choram em cena) e provocar o choro. Emociona, mas é uma série essencialmente deprimente, tão deprimente que se torna indigesta.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Solos
Direção: David Weil, Sam Taylor-Johnson, Zach Braff, Tiffany Johnson
Duração: 20 minutos
PaÃs de Produção/Ano: EUA, 2021
Elenco: Morgan Freeman, Helen Mirren, Anne Hathaway, Anthony Mackie, Dan Stevens, Constance Wu, Uzo Aduba, Nicole Beharie
Distribuição: Amazon Prime