A Grande Mentira

Há dois motivos primordiais para se assistir a A Grande Mentira. É a primeira vez que Dama Helen Mirren e Sir Ian McKellen (ambos condecorados pela coroa britânica) se reúnem no cinema. Segundo, porque não é mais um filme a abordar as agruras da terceira idade. Os veteranos estão aqui para protagonizar um thriller enigmático, em clima de mistério e sedução. E quem conduz a consagrada dupla é Bill Condon, que dirigiu McKellen em Deuses e Monstros (1998), pelo qual o ator foi indicado ao Oscar, além de Sr. Sherlock Holmes (2015) e A Bela e a Fera (2017).

A adaptação do best-seller de Nicholas Searle tem classe, embora a trama promova situações mirabolantes além da conta. Ambientado na Londres de 2009, o filme abre entregando que Roy (McKellen) é um golpista. Com a ajuda de um parceiro (Jim Carter, Downton Abbey) que se faz de investidor, ele passa para trás de empresários a mulheres carentes. Quando conhece a viúva Betty (Helen), está certo de que achou uma presa fácil. É o que parece, mas o espectador naturalmente faz suas suposições sobre esses dois tipos ambíguos e suspeitos.

Betty tem um neto, Stephen (Russell Tovey), que fica de orelha em pé quando Roy muda-se para a casa da avó. A ideia do picareta é que eles invistam juntos todas as suas economias. Há uma certa artificialidade na rapidez com que eles se aproximam, assim como na facilidade com que ela se deixa envolver, porque Betty não parece ser uma mulher ingênua, apenas solitária.

Quando as peças do quebra-cabeça começam a se encaixar, o enredo toma rumos inesperados e fica ainda mais complicado aceitar como críveis as reais motivações por trás do arranjo financeiro. É verdade, porém, que na reta final o diretor injeta dramaticidade e seus personagens ganham complexidade ao ter seus passados revelados. No fim das contas, é preciso dar um desconto para a história irregular e simplesmente degustar o encontro inédito de dois monstros sagrados da atuação.

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