Hunters

A nova série original da Amazon Prime causou o maior burburinho antes mesmo de ser lançada. Primeiro, pela produção executiva de Jordan Peele, que se tornou grife de qualidade depois do sucesso de Corra!, que lhe deu o Oscar de melhor roteiro original, e de Nós. Depois, pela volta de Al Pacino (O Irlandês) ao formato que não visitava desde a minissérie Angels in America (2003). As ilustres adesões devem-se, tudo indica, ao impactante roteiro original do criador e produtor de Hunters, David Weil, que se inspirou nos relatos de sua avó judia, a única da família a sobreviver aos campos de concentração de Auschwitz e Bergen-Belsen, durante a Segunda Guerra.

Na trama ambientada na Nova York de 1977, o jovem Jonah (Logan Lerman, Indignação) trabalha numa loja de gibis no Brooklyn, e trafica maconha para sustentar a casa em que mora com a avó Ruth (Jeannie Berlin), sobrevivente de Auschwitz. Sua vida sofre um baque quando ela é assassinada na sua frente, no dia em que ele e dois melhores amigos assistiram a Guerra nas Estrelas no cinema. Determinado a desvendar e se vingar do crime, Jonah conhece Meyer Offerman (Pacino), líder de um eclético grupo de caçadores justiceiros de nazistas. Não à toa, entra na mira da policial Millie Morris (Jerrika Hinton, série Grey’s Anatomy), e do fanático Travis (Greg Austin), o psicopata faz-tudo do complô nazista liderado pela Coronel (Lena Olin, O Leitor), que pretende trazer o Quarto Reich ao mundo (pois é!).

Para dar consistência à ficção, Hunters faz referências a fatos reais, como a Operação Paperclip, que importou para a América do pós-guerra, com novas identidades, cerca de 1600 cientistas e engenheiros nazistas, para trabalhar no governo e evitar que fossem cooptados pela “arqui-inimiga” União Soviética. O famoso caçador de nazistas Simon Wiesenthal (Judd Hirsh) também aparece, e até o histórico apagão em Nova York está no enredo, no mesmo dia 13 de julho de 1977. Tudo isso é empacotado em dez episódios de cerca de uma hora cada – o piloto tem 90 minutos. Weil e seu time de roteiristas fazem um mix de estilos e gêneros, do psicodelismo do Blaxploitation ao grafismo dos quadrinhos. Drama, ação, suspense, thriller policial se sucedem na mesma velocidade com que a narrativa se alterna entre presente e passado.

Do preto-e-branco dramático e doloroso da violência no campo de concentração ao vermelho e colorido da violência explícita e gráfica dos vigilantes de bom coração - ou dos conspiradores com as piores intenções -, a série é uma maratona narrativa digna das Olimpíadas, mas sem direito a medalhas. Hunters confunde humor negro com piada de mau gosto, engasga nos arremates temáticos, ultrapassa a fronteira ética do entretenimento, já bem flexível aliás, e assusta na banalização do bem e do mal, com um último episódio de revirar o estômago, à moda dos filmes de Peele. Logo após o lançamento, a série recebeu duras críticas da organização Auschwitz Memorial, em especial a uma cena, que inclusive ecoa nos créditos de abertura. Não me convenceu.

Ficha Técnica

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