Começa com o virar de uma cabeça para um lado e para o outro. Em seguida, uma troca de olhares conecta a mulher na arquibancada com os tenistas que se enfrentam na quadra. As faíscas estão no ar desde o primeiro instante de Rivais. Glamourosa sem fazer nenhum esforço, Zendaya (Duna) interpreta a celebridade do tênis Tashi. Em lados opostos da rede temos Patrick (Josh O’Connor, de Enquanto Houver Amor) e Art (Mike Faist, de Amor, Sublime Amor). O enredo monta e desmonta essa trinca em uma inquieta alternância entre presente e passado.
Como um astuto voyeur, como costuma se descrever, o diretor italiano Luca Guadagnino observa seus protagonistas com ginga. Há energia nos movimentos de câmera, como o ponto de vista da bola nas partidas, e na pulsão musical, que mexe com a libido dos personagens e do espectador. Rivais não é bem sobre um triângulo amoroso com o tênis no pano de fundo. É mais sobre um bromance desfacelado por uma mulher determinada a se manter no topo. Uma Rainha de Copas das quadras? Sim. Uma grande vilã? Não.
No roteiro de Justin Kuritzkes não há lugar para simplismos. Tashi, Patrick e Art são forças heterogêneas que se completam. Na primeira volta ao passado, Tashi surge como a tenista prodígio da vez, enquanto Patrick e Art formam uma dupla inseparável dentro e fora das quadras. Os dois se encantam por Tashi e, em uma sequência de sensualidade transbordante, ela ensaia o ménage à trois que dá forma à tríade. As nuances da relação são expostas no vaivém temporal, em uma estimulante metáfora com o esporte. São aces, backhands, voleios e forehands em que cada um usa seus macetes, nem sempre honestos, para sair vitorioso.
A competitividade deixa pouco espaço para o amor verdadeiro nessa partida, em que Tashi parece estar sempre um ponto à frente. Ela tem a certeza (ou a ilusão) de dominar o jogo, de ter feito todas as escolhas bem calculadas, e bem calculistas. Mas Patrick e Art têm uma história pregressa à qual ela não tem acesso. Eles criaram códigos que precedem o diálogo, uma fina sintonia que não evita, porém, a incidência do ciúme e da traição.
Maestro que rege com batuta firme cada detalhe, do figurino à trilha sonora, Luca Guadagnino é acima de tudo um autor de personagens. Depois do premiado Me Chame Pelo Seu Nome (2017), o grande público passou a reparar nesse artista de minúcias, que desafiou plateias com o terror pictórico de Suspíria (2018) e o canibalismo de Até os Ossos (2022). Rivais é uma montanha-russa emocional e sensorial, com espírito pop e jovial. Mas não seria catártico, como é, sem Zendaya, O’Connor e Faist na pele dessa gente complicada, que levanta a torcida nos acertos e nos erros, na intimidade e na quadra.
Trailer
Ficha Técnica
Título: Rivais / Challengers
Direção: Luca Guadagnino
Duração: 131 minutos
País de Produção/Ano: EUA, Itália, 2024
Elenco: Zendaya, Mike Faist, Josh O Connor,
Distribuição: Warner Bros. Pictures
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