Steven Spielberg teve coragem em estrear no gênero musical com Amor, Sublime Amor (West Side Story). Lançada em 1961, a primeira adaptação do espetáculo da Broadway de 1957 ganhou nada menos que 10 Oscars, inclusive o de melhor filme, para Robert Wise. A nova versão concorreu a 7 estatuetas, e venceu na categoria Atriz Coadjuvante, para Ariana DeBose. Spielberg bem que tinha chance de adicionar um Oscar de direção à prateleira que já tem os que ganhou por A Lista de Schindler e O Resgate do Soldado Ryan, mas Jane Campion levou por Ataque dos Cães. Curioso que os três títulos sejam ancorados em tragédias, os dois primeiros na Segunda Guerra. A de West Side Story é shakespeariana, já que inspirada no amor impossível de Romeu e Julieta. Em seu 33º longa em mais de 50 anos de carreira, o cineasta realiza a façanha de se manter fiel ao musical clássico e ao mesmo tempo modernizá-lo.
A trama continua ambientada na Nova York de 1957, mas o retrato da xenofobia, do racismo e da pobreza ganha maior consciência social na rivalidade entre duas gangues que tentam controlar o bairro de Upper West Side. De um lado, os Jets, formada por caucasianos. Do outro, os Sharks, grupo de porto-riquenhos. Do meio da guerra brota o amor proibido entre Tony, ex-líder dos Jets e recém-saído da prisão, e María, irmã de Bernardo, o líder dos Sharks. A novidade é que a gentrificação entra no roteiro de Tony Kushner, parceiro do diretor em Munique e Lincoln. Desta vez, o disputado território de prédios decadentes está prestes a ser demolido para dar lugar ao suntuoso Lincoln Center.
A produção reverencia as melodias de Leonard Bernstein, as letras Stephen Sondheim, e preserva o espírito das coreografias de Jerome Robbins. Depois da abertura, em que um plano-sequência primoroso transporta o espectador para aquele universo, a câmera de Spielberg faz passeios vertiginosos. Ora executa tomada aéreas dos belíssimos números musicais, ora perscruta a emoção dos protagonistas. Astro de A Culpa das Estrelas, o também cantor e DJ Ansel Elgort é um Tony mais intenso que o de Richard Beymer no original. E é sua a voz afinada que canta “María” com delicadeza. No papel de María, que pertenceu a Natalie Wood, entra a estreante Rachel Zagler, que é linda e canta como um rouxinol. O dueto de “Tonight”, a icônica cena do balcão, é de um romantismo de arrepiar.
Não há dublagens. A seleção do elenco foi em grande parte de artistas da Broadway, caso de David Alvarez, intérprete de Bernardo, vencedor do Tony pela montagem de Billy Elliot. Sua amada no filme é Anita, vivida pela energética Ariana DeBose, indicada ao Tony por Summer: The Donna Summer Musical. Na versão de 1961, a personagem era de Rita Moreno, premiada com o Oscar de coadjuvante. Aqui ela está atrás e à frente das câmeras, como produtora executiva e Valentina, viúva de um farmacêutico e figura materna na vida de Tony. A presença da atriz de 90 anos, em excelente forma, responde por algumas das inúmeras cenas emocionantes do novo Amor, Sublime Amor.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Amor, Sublime Amor/West Side Story
Direção: Steven Spielberg
Duração: 156 minutos
PaÃs de Produção/Ano: EUA, 2021
Elenco: Ansel Elgort, Rachel Zegler, Rita Moreno, Ariana DeBose, David Alvarez, Corey Stoll, Mike Faist, Brian dArcy James, Iris Menas
Distribuição: 20th Century Studios