terça, 15 de julho de 2025
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Priscilla


Priscilla
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Nova-iorquina do Brooklyn, Priscilla Ann Wagner tinha 14 anos quando foi apresentada a Elvis Presley, então aos 24 anos e já ídolo musical. Era 1959. Ele prestava serviço militar na Alemanha, onde ela vivia com a mãe e o padrasto, oficial da Força Aérea. O pai, piloto da marinha, morreu em acidente de avião quando a filha tinha seis meses. Foram 13 anos, da Priscilla adolescente até a mulher e mãe que, às vésperas do Natal de 1972, atravessou os portões de Graceland e deixou Elvis para não mais voltar.

Essa é a trajetória de emancipação que atrai Sofia Copolla em Priscilla, que a cineasta retrata inspirada na autobiografia Elvis e Eu, lançada em 1986. É um filme intimista, em caminho oposto ao do cintilante e intenso Elvis (2022), de Baz Luhrmann. Agora o Rei é coadjuvante. Premiada com a Copa Volpi de melhor atriz em Veneza, Cailee Spaeny (série Mare of Easttown) compreende a fragilidade da personagem. A garota que realizou o sonho de toda fã de Elvis Presley viveu uma relação tóxica e abusiva com um homem que a tratava com uma bonequinha de luxo.

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Sofia não vitimiza a protagonista, mas sua câmera a acompanha como um ombro amigo que se solidariza com o amadurecimento abrupto via opressão e solidão. A vida em Graceland podia ser glamurosa, mas não era um parque de diversão. Em 1962 ela entrou como hóspede e passou a ser bancada pelo astro, inclusive os estudos. Mais do que isso, Elvis moldou sua pequena. Decidia da roupa ao tom e corte de cabelo. O casamento mesmo saiu só em 1967.

É instigante a escalação de Jacob Elordi (Saltburn), que nada tem de semelhança física com Elvis. Causa  estranhamento e o afasta do verdadeiro, em uma jogada sutil que acaba por poupar seu legado. A ideia não é depreciar a lenda. Elvis era um rapazote de 21 anos quando o single "Heartbreak Hotel" alcançou o primeiro lugar nos Estados Unidos. Não espanta que o garoto de família simples tenha sucumbido à vaidade ao ganhar o título de Rei do Rock and Roll, junto com as verdinhas que encheram seu bolso.

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Priscilla revela o lado B do sucesso: as traições, o vício em remédios prescritos e o poder que fez Elvis sair ileso das brutalidades físicas e psicológicas que cometeu contra a amada. E amor, como a própria Priscilla não cansa de reafirmar, era o que não faltava entre eles. A presença dela como autora do livro, produtora e consultora do filme pode explicar uma certa cerimônia da cineasta, que peca ao frear as emoções, especialmente na relação a dois. Ao contrário do mestre dos requebrados que provocavam delírio e furor nos palcos, Elvis se mostra casto e desinteressado nas cenas íntimas.

A escolha de Sofia em evidenciar Priscilla é bem-vinda e coerente com sua filmografia. Desde As Virgens Suicidas (1999), a filha do grande Francis Ford Coppola (Apocalypse Now) se firmou como autora motivada pelo universo feminino. Vieram depois títulos como Encontros e Desencontros (2003), que lhe rendeu o Oscar de roteiro original, Maria Antonieta (2006) e O Estranho que Nós Amamos (2017), em que examina os medos, desejos, aspirações, frustrações e realizações de mulheres de idades, origens e temporalidades diferentes.

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Priscilla se encaixa nesse painel com a dignidade de uma sobrevivente, e não só à morte precoce de Elvis, em 1977. Sua vida com o Rei é apenas o principal capítulo de uma trajetória marcada por perdas familiares. Mas essa é outra história, que valeria um segundo filme, focado na resiliência. A atriz, empresária e ativista segue firme e perto dos 80 anos. Já Sofia enfrentou resistência de todos os lados. Não teve autorização para usar as músicas e não recebeu o apoio da filha única de Elvis, Lisa Marie (falecida em 2023). Diretora independente que é, não se deixou abalar. Deu luz, voz, espaço e tempo para a grande mulher que viveu à sombra do mito. 




Trailer

Ficha Técnica

Título: Priscilla
Direção: Sofia Coppola
Duração: 113 minutos

País de Produção/Ano: EUA, Itália, 2023
Elenco: Cailee Spaeny, Jacob Elordi, Ari Cohen, Dagmara Dominczyk, Tim Post, Lynne Griffin
Distribuição: O2 Play, MUBI

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Suzana Uchôa Itiberê

Suzana Uchôa Itiberê

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Cinéfila incorrigível, jornalista de plantão, crítica de cinema (não muito) chatinha e editora caprichosa. Cria do jornal O Estado de S. Paulo, trabalhou nas revistas TVA, Set, Istoé Gente e foi cofundadora da revista Preview. Membro da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema).