Nos últimos três anos, Olivia Colman ganhou o Emmy pela interpretação da Rainha Elizabeth II na série The Crown, o Oscar pelo papel da Rainha Anne em A Favorita e concorreu à estatueta como a filha de Anthony Hopkins em Meu Pai. Começa 2022 e a estrela britânica já está na briga por outro troféu, desta vez o Globo de Ouro, por A Filha Perdida. A premiação é neste domingo, dia 9, mas a emissora NBC cancelou a exibição após protestos contra a falta de diversidade entre os membros da Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood (HFPA). Pena, mas a produção da Netflix está no Top 10 da plataforma, é presença certa no Oscar e venceu Melhor Roteiro em Veneza. Impossível passar incólume por esse profundo mergulho na psiquê materna.
A atriz Maggie Gyllenhaal (A Professora do Jardim de Infância) estreia como diretora e roteirista na adaptação do romance de Elena Ferrante, pseudônimo da enigmática autora italiana que se tornou best-seller ao derrubar tabus em histórias sobre a experiência de ser mulher. A Filha Perdida não integra a famosa Tetralogia Napolitana, iniciada com A Amiga Genial, em 2011. O cenário aqui é a fictícia ilha grega Kyopeli, onde Leda, a protagonista, está em férias. Professora e tradutora de literatura italiana, mulher irritadiça e melancólica, ela vê sua idílica estadia interrompida pela chegada de uma grande e barulhenta família. Seus olhos recaem sobre Nina (Dakota Jonhson, Cinquenta Tons de Cinza), a linda mãe de uma garotinha que faz aflorar suas memórias com as duas filhas.
“Ser mãe é uma responsabilidade imensa”, Leda diz à Callie (Dagmara Dominczyk, Abe), a cunhada grávida de Nina. Em etapas diferentes da maternidade, as três são matéria-prima da cineasta, que usa o desaparecimento de uma boneca como argamassa narrativa. Callie penou para engravidar e espera o parto com ansiedade. Nina está exausta com a pequena que não lhe dá trégua. A versão da Leda mãe aparece em flashbacks, interpretada pela ótima Jessie Buckley (Estou Pensando em Acabar com Tudo). A Filha Perdida desmonta o mito da mãe ideal e ergue o da mãe humana. As atitudes de Leda em relação às filhas são passíveis de julgamento, não dá para negar. O que torna esse painel tão autêntico e corajoso é justamente sua dificuldade em encaixar a figura materna entre as outras mulheres que convivem dentro de si mesma.
Alguns personagens masculinos gravitam ao redor, quase sempre fascinados, porém incapazes de compreender a complexidade feminina. Ed Harris (Noite Sem Fim) é o charmoso administrador do apartamento alugado por Leda na praia, Paul Mescal (Normal People) faz seu funcionário, e Peter Sarsgaard (Feito em Casa, e marido da diretora) participa como o professor que instiga o talento e a feminilidade de Leda. Mas é Oliver Jackson-Cohen (O Homem Invisível), como o ameaçador marido de Nina, que injeta tensão na trama. A Filha Perdida é sobre mulheres, feito por mulheres, mas não apenas para mulheres. Elena Ferrante, Maggie Gyllenhaal e suas estrelas abrem as portas aos interessados em desvendar mulheres de carne e osso.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: A Filha Perdida/The Lost Daughter
Direção: Maggie Gyllenhaal
Duração: 121 minutos
PaÃs de Produção/Ano: EUA, Grécia, 2021
Elenco: Olivia Colman, Jessie Buckley, Dakota Johnson, Dagmara Dominczyk, Ed Harris, Paul Mescal, Peter Sarsgaard, Oliver Jackson-Cohen, Jack Farthing
Distribuição: Netflix