Resistência

É uma reciclagem luxuosa a que o diretor Gareth Edwards realiza em Resistência. E não apenas de clássicos da ficção científica, como Blade Runner: O Caçador de Androides (1982) e E.T.: O Extraterrestre (1982), que ele mesmo cita como inspirações. A versão animada do mangá Akira (1988) e até Lua de Papel (1973), sobre uma relação paternal, estão entre as referências. Os cinéfilos ainda vão identificar homenagem a Apocalipse Now (1979) e toques de A.I. – Inteligência Artificial (2001).

Não seria um problema se essa tessitura temática e imagética validasse a história original que o cineasta escreve em nova parceria com Chris Weitz, coautor de Rogue One: Uma História Star Wars (2016). A questão é que de inédito, Resistência tem pouco. E olha que o início é promissor. A distopia é realidade na década de 2060. Os Estados Unidos destroem e banem a inteligência artificial após explosão nuclear em Los Angeles ser debitada aos robôs. Em uma região conhecida como Nova Ásia, os androides erguem seu mundinho, uma versão futurista do Vietnã.

Ali encontra-se o protagonista, Joshua (John David Washington, Infiltrado na Klan). O ex-agente das forças especiais está na paz com a esposa grávida (Gemma Chan, de Eternos) quando sofre um ataque brutal que resulta na sua volta aos EUA, e no desaparecimento da amada. O retorno ao território IA ocorre cinco anos depois, junto a uma tropa de elite cuja missão é descobrir o paradeiro do Criador, figura misteriosa que teria desenvolvido uma arma letal que pode dizimar a raça humana.

Fica ainda mais intrigante quando Joshua se depara com a temida arma: a robozinha a quem chama de Alphie (Madeleine Yuna Voyles) e que só se diferencia de um humano por um apetrecho metálico no lugar dos ouvidos e na parte posterior da cabeça. Aqui vale comentar a inexplicada diversidade visual dos robôs. Temos o modelo humanoide, outro que parece saído de Chappie (2015), mas com a lataria coberta por roupas (!?), e um grandalhão, versão R2-2d do mal, usado como bomba.

O que se vê a partir daí é Joshua e Alphie em fuga do pelotão comandado pela coronel vivida por Allison Janney (Eu, Tonya), enquanto rumam para a aldeia liderada pelo robô interpretado por Ken Watanabe, com quem o diretor havia trabalhado em Godzilla (2014). O frágil fio narrativo aposta na relação paternal dos protagonistas. Alphie é uma graça e tem carisma, porém a relação com Joshua não emociona, não diverte e não segura a tensão. Ator e diretor não acertam o timing dramático desse laço de afeto que enterneceria o público. Mas se a jornada é opaca nos sentimentos, The Creator (título original) é um deslumbre visualmente.

Com originalidade ou não, Gareth Edwards ergue um mundo fascinante, realista e, acredite, barato. Com US$ 80 milhões de orçamento, abraçou o esquema de guerrilha, dispensou a tela verde e filmou em locações reais como Vietnã, Nepal e Tailândia. Inseridos depois, os elementos de ficção científica têm o know-how da Industrial Light and Magic, em nova colaboração depois de Rogue One.

É monumental a nave Nomad, que abriga a força militar e sobrevoa territórios da Nova Ásia como um gigantesco scanner, que identifica a presença da IA e bombardeia os alvos. A mensagem pacifista e antibélica é clara, assim como o recado contra o preconceito cultural e, pode-se dizer, racial. Embora mal explorada na trama, a comunidade robótica – criada pelos humanos, é bom lembrar – desenvolveu crenças, valores e costumes.

O segredo para aproveitar o que Resistência tem de melhor é aceitar suas limitações dramáticas e narrativas (o diretor sofre para pôr um ponto final nas mais de duas horas de projeção) e se maravilhar com o visual. Ainda assim, fica uma pergunta capciosa: se a dengosa Alphie tem poderes incríveis no toque ou no simples unir das palmas das mãos, por que raio não consegue abrir uma porcaria de uma porta emperrada em uma cena crucial no desfecho?

Ficha Técnica

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