Maestro

Maestro, compositor e pianista, Leonard Bernstein (1918-1990) comandou a Filarmônica de Nova York, conduziu orquestras pelo mundo, ensinou e inspirou toda uma geração de músicos. No mundo do entretenimento, se consagrou como o vencedor de 16 Grammys e autor da trilha sonora do musical da Broadway Amor, Sublime Amor (West Side Story). Foram 10 Oscars, inclusive de melhor filme, para a adaptação de 1961, de Robert Wise, e sete indicações e a estatueta de atriz coadjuvante para Ariana DeBose, no remake capitaneado por Steven Spielberg em 2021.

Spielberg, produtor de Maestro, explicou em entrevistas que a obra coescrita, dirigida e estrelada por Bradley Cooper não é cinebiografia. Descreve a produção da Netflix como a anatomia de um casamento. Indicado ao Leão de Ouro em Veneza e no páreo por inúmeros troféus na temporada de prêmio que se inicia, o filme faz um mergulho na intimidade de Bernstein e da atriz Felicia Montealegre. Foram quase 30 anos de união, três filhos e uma convivência abalada pela notória bissexualidade dele. O amigo e roteirista Arthur Laurents foi mais enfático: “ele era um homem gay que se casou”.

Em seu segundo longa na direção, Cooper troca a música country de Nasce Uma Estrela (2018) pela clássica de Maestro. E transita da expansiva Lady Gaga para a discreta Carey Mulligan, indicada ao Oscar por Bela Vingança (2020) e Educação (2009). Felicia tinha plena consciência da orientação sexual do marido, mas talvez não tenha calculado o quanto teria de abdicar de si mesma para manter a casa em pé. A personagem caminha por uma tênue linha entre a felicidade e o desespero. Grande atuação.

A polêmica prótese nasal que Cooper usa em sua personificação foi defendida pelos três filhos de Bernstein, que ainda cederam um roupão de banho do pai para o figurino e liberaram filmagens na casa de campo da família em Fairfield, Connecticut. Com mudanças no timbre vocal e no gestual, o preparo foi tão profundo que o diretor continuava caracterizado mesmo atrás das câmeras. Aprender a reger fez parte do processo que o próprio assume ter sido obsessivo.

Vencedor do Oscar por Spotlight: Segredos Revelados (2015), Josh Singer escreve o roteiro em parceria com o cineasta. Parte de 1943, quando Bernstein substitui o gripado maestro principal da Filarmônica de Nova York na última hora e sem nenhum ensaio. Na época, ele vivia com o clarinetista David Oppenheim (Matt Bomer), que na trama não esconde o espanto quando é apresentado à Felicia. A narrativa é pautada pelas mudanças na forma como Bernstein lida com sua sexualidade e como seu comportamento afeta o casamento.

O movimento pela Libertação Gay, do fim dos anos 1960 até meados da década de 70, aprofunda o distanciamento da vida em família. Participativos no lançamento do filme, os filhos do casal, Nina Maria, Jamie e Alexander, foram francos sobre a complicada relação dos pais. A trama ilumina o músico e o homem, mas a carreira de Bernstein fica em segundo plano. O arco dramático recai com potência sobre Felicia. Seu desmantelar, regido com fervor por Cooper, é a grande sinfonia de Maestro.   

Ficha Técnica

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