Das cinco indicações ao Oscar 2023 de Melhor Ator, a única performance que faltava chegar oficialmente por aqui é a de Bill Nighy em Viver. A produção chega ao streaming e não há dúvida de que o britânico merecia estar no páreo, vencido por Brendan Fraser em A Baleia. O filme concorreu também a Melhor Roteiro Adaptado para o japonês Kazuo Ishiguro (Vestígios do Dia), que honra o mestre Akira Kurosawa com a nova versão do clássico homônimo de 1952.
Ishiguro foi laureado com o Nobel de Literatura em 2017, segundo a Wikipédia, pela “grande força emocional presente em seus romances, revelando o abismo sob nosso ilusório sentido de conexão com o mundo”. Williams, o protagonista de Viver, parece existir por inércia. Viúvo, mora com o filho e há pouco com a nora, um ser nada afetuoso. Diariamente, esse senhor taciturno veste o terno, o chapéu coco e parte melancolicamente para o trabalho de chefia no setor de Obras Públicas, na Londres dos anos 1950.
Com torres de pastas e papelada sem fim, a repartição pública se movimenta com a mesma morosidade do personagem, e o espírito de “tanto faz” contagia os funcionários. Não é à toa que a jovem Margaret (Aimee Lou Wood) lhe deu o apelido secreto de Senhor Zumbi. A rotina de Williams é balançada pela chegada de Peter (Alex Sharp), o novato do escritório, e pela notícia, mantida em segredo, de que tem pouco tempo de vida.
Seu canto do cisne compreende diversas fases. Cada uma delas é registrada pela câmera ora tristonha, ora divertida, porém sempre lírica, do cineasta sul-africano Oliver Hermanus. Bill Nighy ganhou o Bafta (o Oscar britânico) de coadjuvante pela comédia romântica Simplesmente Amor (2004), e tem feito bonito em dramas como Enquanto Houver Amor (2019). É o tipo do ator que fala sem dizer e aqui trafega com sutileza entre os ânimos que assolam o protagonista.
Em um primeiro momento, ele experimenta o desamparo familiar em uma casa onde o diálogo é escasso. Em seguida, sente a euforia de uma farra noturna, ao lado de um simpático estranho. O brilho no olhar, contudo, ressurge quando uma epifania o faz redescobrir o apetite pela vida. Williams vai deixar um legado transformador. O roteiro de Ishiguro segue o original com fidelidade e uma bem-vinda pitada do humor britânico. A enternecedora mensagem de Viver é uma lição de altruísmo.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Viver / Living
Direção: Oliver Hermanus
Duração: 102 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Reino Unido, Japão, Suécia, 2022
Elenco: Bill Nighy, Alex Sharp, Aimee Lou Wood, Adrian Rawlins, Anant Varman
Distribuição: Sony Pictures Classics
Comentar
Comentários (0)