Primeira produção original da WarnerMedia Latin America com o selo Particular Crowd, Twist é baseado no romance Oliver Twist, de Charles Dickens, publicado em 1838. Ao contrário de tantas outras adaptações do clássico que povoam o cinema desde 1912, e já contaram com a direção de cineastas do porte de David Lean (1948), Carol Reed (1968) e Roman Polanski (2005), essa versão recente prefere repaginar a história.
Twist (estreia de Rafferty Law, a cara do pai, Jude Law) continua órfão, mas conviveu com a mãe na primeira infância, de quem herdou o gosto pela pintura, o que faz uma grande diferença na trama. Fagin (Michael Caine, Rei dos Ladrões) ainda é o larápio mentor que coopta Twist para seu grupo de jovens ladrões, do qual participam Dodge (Rita Ora, Cinquenta Tons de Cinza) e Bathesy (Franz Drameh, série See). E Sikes (Lena Headey, série Game of Thrones), agora uma mulher, continua no papel de parceira inescrupulosa de Fagin.
A Nancy salvadora do livro também bate cartão no filme, mas na pele da bela Red (Sophie Simnett), que tem uma misteriosa ligação com Fagin e Sikes. Isso deixa Twist com o pé atrás, quando ele começa a se sentir atraído pela única do grupo que o acompanha em suas verdadeiras acrobacias de parkour – atividade física urbana, nascida na França, que consiste basicamente em superar os obstáculos de um determinado percurso da maneira mais eficiente. No filme, a dupla escala telhados e pula traves, na maciota, em ruas e parques de uma Londres deslumbrante.
Twist é grafiteiro dos bons, e o parkour o ajuda a chegar a lugares privilegiados. Criou-se nas ruas, dormindo principalmente nos museus que visitava com a mãe. Seu conhecimento de pintura e sua habilidade de fuga são o pacote perfeito para Fagin. Ladrão o mais inofensivo possível de obras de arte, ele planeja há anos um golpe certeiro para se vingar de um, agora, respeitado marchand. A apresentação do plano detalhado lembra vagamente Onze Homens e um Segredo, e o estilo do diretor Martin Owen (Max Cloud) fica entre a referência e a cópia do de seu conterrâneo britânico mais talentoso, Guy Ritchie (Magnatas do Crime).
Entre argumento e roteiro, nove escritores não deram conta de amarrar bem a história, muito menos o cineasta. Tantas pontas soltas incomodam, mas a direção de arte caprichada, figurinos inclusive, o embalo da trilha pop, a ambientação no mundo da arte e a moçada do elenco amenizam o estrago, já que Caine esgotou há tempos o papel do bom ladrão e Lena Headey faz uma composição clichê e totalmente equivocada da vilã.
Ainda assim, Twist acerta ao colocar o romance clássico em evidência e estimular sua leitura. Afinal, muito antes de Harry Potter se tornar o órfão mais amado dos livros e do cinema, Oliver Twist já tinha o seu quinhão de dramas e dificuldades para vencer sem nenhuma mágica a seu dispor. O anseio de pertencimento, comum nas histórias de órfãos, que ganha uma representação sutil e comovente na sequência final e na canção de Rita Ora durante os créditos finais, ecoa no distanciamento destes tempos pandêmicos. Esse eco é o melhor do filme.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Twist
Direção: Martin Owen
Duração: 90 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Reino Unido, 2021
Elenco: Rafferty Law, Rita Ora, Franz Drameh, Sophie Simnett, Michael Caine, Lena Headey, David Walliams
Distribuição: HBOGo