Começou com a Palma de Ouro no Festival de Cannes e terminou na histórica cerimônia do Oscar 2019, onde Parasita tornou-se a primeira produção em língua não inglesa a ganhar o prêmio principal, de melhor filme. Bong Joon Ho (veja Lista) ainda levou para casa os Oscar de filme internacional, direção e roteiro original. Parasita é uma fábula sombria sobre a disparidade social na Coreia do Sul. Há humor na receita, verdade, mas é um riso nervoso, porque a relação entre patrões e empregados que ele examina aqui vale para qualquer tempo e espaço. O cinema brasileiro abordou a questão em três ótimos filmes recentes: Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert, Casa Grande e Domingo, ambos de Fellipe Barbosa – e aguarde o ainda inédito Três Verões, de Sandra Kogut.
Joon Ho conduz a narrativa um tom acima do real, uma jogada que lhe dá liberdade para trabalhar arquétipos sem medo da caricatura. Há dois quartetos nesse tabuleiro, formados por pai, mãe e um casal de filhos. Os miseráveis Kim são verdadeiros ratos de porão. Sobrevivem em um muquifo calamitoso no subsolo da cidade e ganham uns trocados ao montar caixas de pizza para uma empresa de delivery. Já a família Park é o suprassumo da elite. A mansão no alto de uma ladeira é um primor arquitetônico de alta tecnologia. São gente do bem, vale dizer.
Os Kim aproveitam como podem a chance de se infiltrar na residência dos ricaços e garantir emprego para todo o clã sem, no entanto, revelar os laços de sangue entre eles. O diretor acompanha com um olhar divertido a rotina de patrões e empregados, que parasitam uns aos outros sem comedimento. Só míopes não percebem que essa é uma via de mão dupla. Joon Ho não faz julgamentos morais, mas leva esse arranjo a um radicalismo violento quando uma ex-governanta volta à residência dos Park para resolver um grave problema pessoal.
Há segredos obscuros e chocantes na trajetória dessa gente que se movimenta por duas casas que possuem vida própria. Repare na quantidade de escadas – é um sobe e desce danado entre o topo e a base da pirâmide social. O clímax beira o surreal e se há um senão em Parasita é o diretor não ter dado o ponto final no auge da tensão. Buscar algum tipo de redenção, nesse caso, faz arrefecer o ânimo do espectador e a potência do que se viu até ali. Ainda assim, é pertubador.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Parasita/Gisaengchung
Direção: Bong Joon-ho
Duração: 132 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Coreia do Sul, 2019
Elenco: Song Kang Ho, Lee Sun Kyun, Cho Yeo Jeong, Choi Woo Shik, Park So Dam, Lee Jung
Distribuição: Pandora Filmes