sexta, 04 de julho de 2025
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Oxigênio


Oxigênio
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Netflix

Uma mulher acorda dentro de uma cápsula criogênica, sem ter ideia de como, quando e por que foi parar ali. Pior, não sabe o próprio nome e sua memória não passa de flashes românticos com um homem. O título se explica: ela tem apenas 35% de oxigênio disponível e o sistema de computador, que se apresenta como MILO, calcula sua morte por sufocamento em menos de 90 minutos. Isolamento, claustrofobia, solidão, falta de ar, falta de perspectiva e busca existencial. Oxigênio parece moldado pela pandemia do coronavírus, mas a ficção científica escrita por Christie LeBlanc apenas estreou no timing exato. Até demais, porque muitos dos sentimentos da protagonista são também os nossos nesse momento caótico. 

Quem viu Ryan Reynolds (Deadpool) no aflitivo Enterrado Vivo (2010) pode se preparar para outra sessão enervante. Diretor de Predadores Assassinos e Piranha 3D, o francês Alexandre Aja não é chegado a sutilezas, mas segura a tensão e, sem ter muito o que inventar dentro da câmara criogênica, deposita todas as suas fichas na protagonista, o que é ótimo. Mélanie Laurent (O Retorno do Herói) despontou para o mundo sob a batuta de Quentin Tarantino em Bastardos Inglórios, e desde então transita com desenvoltura entre a França e Hollywood. Linda e talentosa em frente às câmeras, Mélanie é também uma cineasta a se observar – seu Respire é excelente.

Oxigênio

Em uma produção arrojadíssima, câmeras registram os movimentos da protagonista do momento em que ela acorda e rompe a estranha membrana orgânica que envolve todo o seu corpo. Os lampejos de memória são os breves respiros visuais do mundo exterior. Diferente do rebelde HAL 9000 do clássico 2001: Uma Odisseia no Espaço, o computador central MILO (na voz capciosa de Mathieu Amalric, Um Banho de Vida) tudo vê, mas nem tudo controla. Suas habilidades são limitadas e dependem de comandos certeiros, o que força a protagonista a fazer as perguntas certas.

Assim ela descobre que se chama Elizabeth Hansen, que seu apelido é Liz, e que é uma especialista em criogenia, a nem tão futurista técnica de conservar o corpo em temperatura baixíssima para que seja “religado” no futuro, quando a medicina puder tratar males hoje sem cura. MILO consegue conectá-la com a polícia, que tentará descobrir seu paradeiro em uma corrida contra o tempo. Mas a realidade é obtusa em Oxigênio e o ratinho que aparece em um labirinto na abertura parece ser a chave do enigma.

Oxigênio

Nós estamos com Liz em tempo real. Compartilhamos cada uma das sensações que experimenta no casulo, assistimos apreensivos a suas tentativas de escapar e desvendamos o mistério junto com ela – as peças se encaixam, porém com certo esforço. Mélanie Laurent entrega um esplêndido trabalho físico e dramático, de longe o mais desafiador da sua carreira. Alexandre Aja faz jus à estrela e cria momentos líricos que honram sua beleza etérea. Ele sabe que a ficção científica, quando bem feita, é uma janela para a realidade. Na luta pela sobrevivência, Liz vai ao encontro de si mesma e no caminho medita sobre o amor, a natureza, a memória, o conhecimento, a tecnologia, a vida e a morte. Oxigênio vai fundo. 




Trailer

Ficha Técnica

Título: Oxigênio/Oxygène
Direção: Alexandre Aja
Duração: 100 minutos

País de Produção/Ano: EUA/França, 2021
Elenco: Mélanie Laurent, Mathieu Amalric, (voice), Malik Zidi
Distribuição: Netflix

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Suzana Uchôa Itiberê

Suzana Uchôa Itiberê

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Cinéfila incorrigível, jornalista de plantão, crítica de cinema (não muito) chatinha e editora caprichosa. Cria do jornal O Estado de S. Paulo, trabalhou nas revistas TVA, Set, Istoé Gente e foi cofundadora da revista Preview. Membro da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema).