Um Banho de Vida

Há situações na vida em que talvez seja mesmo melhor rir. O ator Gilles Lellouche (Assim é a Vida, A Conexão Francesa), que dessa vez foi para trás das câmeras e colaborou no roteiro, inspirou-se para a produção de Um Banho de Vida num documentário sobre natação artística masculina. A partir daí, transformou o curioso caleidoscópio social e humano do universo de seus personagens num espelho, muito mais fiel do que gostaríamos, da vida no século 21. A receita deu certo: mais de 4 milhões de franceses foram ver. Agora é nossa vez.

Na região de Grenoble, nada tropical, sete homens entre os quase 40 e 60 anos, cheios de problemas e fora de forma, reúnem-se numa equipe de nado sincronizado, treinada por uma ex-campeã da categoria numa academia de natação. Após as sofríveis sessões na água, eles se reúnem na sauna e falam de suas agruras - mais uma das muitas inversões do imaginário feminino que Lellouche espalha pelo filme.  Por fim, decidem competir no campeonato mundial, o que talvez ressoe outra comédia, a inglesa Ou Tudo ou Nada. 

Num registro arriscado, o diretor sabia que podia contar com seu maravilhoso elenco para não cair no grotesco ou esbarrar no bufão. Mathieu Amalric (O Escafandro e a Borboleta) é o deprimido desempregado, Guillaume Canet (Rock'n Roll: Por Trás da Fama), o disciplinado estouradão, os dois prestes a perder a família. Virginie Efira (Um Amor à Altura) é a treinadora alcoólatra, Leïla Bekhti (Carnívoras), a outra treinadora, cadeirante. E tem ainda Benoît Poelvoorde (O Novíssimo Testamento) como o empresário fracassado e falastrão, Jean-Hugues Anglade (Grandes Amigos), como o roqueiro frustrado de quem a filha se envergonha, e Philippe Katerine (Deixe a Luz do Sol Entrar), o solitário simpático da vez.

Lellouche sabia também que tinha na mão um conjunto de situações verossímeis, apesar de incômodas, e que por isso mesmo precisava apresentá-las ao longo do filme, no ritmo e no tom certos. Desenha assim, no retângulo da tela, os círculos e a geometria física e emocional de seus personagens, eles e elas, simpáticos atletas improvisados, patinhos feios da piscina que, campeões ou não, já se tornaram cisnes premiados por encontrar o caminho de volta para si próprios – e para casa.

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