O Urso

É um fenômeno. Depois de dar play na primeira temporada de O Urso, a tendência é maratonar até o final da segunda. São 18 capítulos no total, mas curtos, com cerca de 30 minutos. Atração do Star+, O Urso coloca um novo astro sob os holofotes. O nova-iorquino Jeremy Allen White venceu seu segundo Globo de Ouro pela acachapante performance como Carmen “Carmy” Berzatto, o chef de cabelos revoltos e olhar de cachorro carente, que desmonta os mais sensíveis.

No primeiro ano, Carmy volta para casa em Chicago, após um longo retiro de aprendizado em cozinhas estreladas pelo mundo. O retorno foi forçado. Ele precisa assumir o decadente restaurante da família, que herdou com a morte repentina do irmão, Michael (Jon Bernthal). O The Beef é inspirado no original Mr. Beef, que existe desde 1979 no bairro River North. O criador da série, Christopher Storer, é amigo de infância do filho do proprietário, que inclusive cedeu o lugar para parte das filmagens. Dá para sentir na pele o frisson da caótica dinâmica nesse mini templo gastronômico.

Uma câmera nervosa registra a métrica do trabalho dessa equipe que pouco respira, mas que parece atingir o Nirvana ao saboreio de uma iguaria singular. Com sangue quente italiano, Carmy conduz a frenética dança de pessoas, pratos, panelas e ingredientes, ciente de que um passo em falso pode pôr tudo a perder. Formada aos trancos e barrancos, a família The Beef tem mais dois pilares, a sous chef Sydney Adamu (Ayo Edebiri) e o supervisor faz-tudo Richard “Richie” Jerimovich (Ebon Moss-Bachrach), melhor amigo de Michael e último elo entre Carmy e o irmão. Os agregados são muitos e os laços entre eles se estreitam na segunda temporada, que ganha vigor dramático ao se expandir para além da cozinha.

A nova fase acompanha a insana reforma do restaurante e a criação do requintado cardápio do futuro The Bear (O Urso). Aos olhos atentos do investidor, Jimmy (Oliver Platt), o “tio rico”, eles enfrentam um apertado cronograma de tempo e dinheiro. Com presença maior de Natalie “Sugar” (Abby Elliott), irmã mais velha de Carmy, o enredo investe na intimidade dos personagens, em uma cadência narrativa que se aprofunda em questões pungentes. O luto, o vício, a solidão, a busca de um propósito, o individualismo, o medo da felicidade, a ansiedade, e os sempre bem-vindos empatia e afeto.

O sexto e sétimo episódios são de aplaudir em pé, e contam com luxuosas participações especiais. Olha o spoiler! No primeiro, um flashback, a oscarizada Jamie Lee Curtis (Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo) vive a matriarca Donna Berzatto, em uma das noites de Natal mais disfuncionais já vistas no cinema. No outro, a também vencedora do Oscar Olivia Colman (A Favorita) faz a chef de um renomado restaurante onde Richie vai estagiar, e com ele tem um diálogo singelo e transformador.

Desta vez há espaço para flertes e romance, embora a pressão para a inauguração do The Bear dificulte as tentativas dos protagonistas de ter vida social. O desfecho não oferece reviravolta, como na primeira temporada, mas é de uma originalidade tocante. Por um descuido seu, Carmy se vê preso entre quatro paredes, literal e psicologicamente. É uma situação tragicômica, densa e comovente, cujos desdobramentos desafiam o espectador a segurar a ansiedade até a estreia da terceira temporada.

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