Um, dois, três, vai! É preciso embarcar nas insanidades de Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, que abocanhou 7 dos 11 Oscars que disputava, 4 deles entre os Big Five: filme, direção, roteiro original e atriz. Faltou o de melhor ator, ao qual nem concorria - Brendan Fraser levou, por A Baleia. A lista se completa com vitórias para atriz e ator coadjuvantes, além de montagem. Não faltou emoção na consagração desse fenômeno que conquistou e repeliu o público com a mesma intensidade.
Quem odiou, vale uma revisitada, agora na telinha do Prime Video. Porque, baixada a poeira psicodélica, essa é a terna história de uma família disfuncional com graves ruídos entre mãe e filha. De volta à elite de Hollywood quase quarenta anos depois de Indiana Jones e o Templo da Perdição, o oscarizado Ke Huy Quan forma o casal central com Michelle Yeoh, que tirou o Oscar das mãos da favorita, Cate Blanchett (Tár).
Quem acha ousado o multiverso da Marvel não tem noção do que os diretores e roteiristas Dan Kwan e Daniel Scheinert aprontam nessa trama metafísica e lisérgica, sem medo de tocar em temas (ainda) sensíveis como imigração e homossexualidade. A primeira das inúmeras linhas narrativas que se cruzam em universos paralelos é a mais prosaica. Michelle faz a imigrante chinesa, dona de uma lavanderia, que está encrencada com o fisco. Ela tem um marido pacato, um pai rabugento (James Hong) e uma filha (Stephanie Hsu) que reivindica seu apoio para apresentar a namorada ao avô.
Nada de novo no front, até que uma versão alternativa do marido lhe diz que um grande mal dominou seu mundo, está espalhando o caos pelos multiversos e que só ela tem o poder de restaurar o equilíbrio. Oi? É doido e não se cobre de entender tudo. Vale até rever algumas sequências para tentar montar o quebra-cabeça. O humor é grotesco e explica a repulsa de gente que saiu no meio da sessão. Os gatilhos dos saltos entre universos são de uma bizarrice surreal.
Em cada portal, a protagonista se vê em diferentes versões de si mesma. Estrela de cinema, lutadora de artes marciais, chef. Em seu perfil mais esdrúxulo, ela vive com a personagem que deu o Oscar à Jamie Lee Curtis, e nessa realidade as pessoas têm salsichas no lugar de dedos (!). Todos transitam pelos multiversos, e atenção para a identidade da vilã, Jobu Tupaki. A relação entre mãe e filha toma a frente no enredo na medida em que as peças se encaixam.
A dupla de cineastas é conhecida por Um Cadáver para Sobreviver (2016), em que Paul Dano é o homem em crise existencial que trava amizade com o cadáver feito por Daniel Radcliffe. A criatividade agora atinge níveis estratosféricos, mas com a chancela dos produtores e irmãos Anthony e Joe Russo, que comandaram quatro filmes da Marvel. Não é só pela montanha-russa narrativa que Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo conquistou seu lugar na história do cinema. É pela alucinante mistura de gêneros que faz o público se aventurar por uma cartela de sentimentos e emoções. Dá até para dar uma choradinha no final.
Trailer
Ficha Técnica
Título: Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo/Everything Everywhere All at Once
Direção: Dan Kwan, Daniel Scheinert
Duração: 139 minutos
País de Produção/Ano: EUA, 2022
Elenco: Michelle Yeoh, Ke Huy Quan, Jamie Lee Curtis, Stephanie Hsu, James Hong
Distribuição: Diamond Films
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