A disputa pela estatueta de melhor filme está acirrada no Oscar 2022, marcado para dia 27 de março, com transmissão no Brasil pela TNT. São 10 indicados e com pesos pesados como Ataque dos Cães e Belfast. Não estranhe, porém, se No Ritmo do Coração, da Prime Video, levar o prêmio máximo. As vitórias nos festivais de cinema independente, Sundance entre eles, são sinais incertos. Acontece que as escolhas da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas são pautadas por quesitos que vão além do filme. O sul-coreano Parasita bateu recordes merecidamente em 2020, mas a aclamação também atendia a protestos por representatividade e diversidade em Hollywood.
O mundo agora enfrenta o horror da guerra na Ucrânia. As mensagens construtivas e amorosas de No Ritmo de Coração podem ter seu valor elevado e, quem sabe, fechar a maior festa do cinema com a celebração de uma história otimista sobre família, inclusão, união e aceitação. A trama encanta e não é de hoje. O filme é o remake americano do francês A Família Bélier, enorme sucesso de 2014 que premiou a novata Louane Emera com o César de atriz revelação. Quem viu deve se lembrar da canção “Je vole”, que Louane canta no clímax. É um caso raro, mas a diretora Sian Heder melhora o original.
Coda, o título em inglês, significa Child of Deaf Adults (Filho de Surdos), mas é também o nome da seção com que se termina uma música. Ruby Rossi, a protagonista interpretada por Emilia Jones (Amaldiçoada), é a única da família sem deficiência auditiva. Nas madrugadas, sai para pescar com o pai e o irmão, e ainda assume as negociações no mercado de peixes do Porto de Gloucester, em Massachusetts, onde moram. Na escola, inscreve-se no coral, para fazer o que mais ama na vida, cantar, e estar perto do crush, Miles (Ferdia Walsh-Peelo, de Sing Street). O conflito se instala quando o professor (Eugenio Derbez, Dora e a Cidade Perdida) se oferece para prepará-la sem custo para a audição em uma faculdade de música. O dilema de Ruby: seguir o sonho de ser cantora, ou continuar a ajudar a família?
Sian Heder deu uma boa polida no roteiro, também indicado ao Oscar, com um cuidado maior não só no desenho dos personagens, mas na estética. A água é elemento forte da mise-en-scène. A câmera a captura abundante e poderosa nas sequências de pesca no mar, como símbolo de força e fertilidade. A água lírica, que purifica e transforma, banha Ruby no lago onde ela se encontra com Miles. São detalhes que refinam uma obra singela, em harmonia entre o drama e o humor. O maior acerto da cineasta, no entanto, foi escalar deficientes auditivos para viver o clã Rossi – A Família Bélier recebeu críticas por ter apenas o ator surdo Luca Gelberg como o irmão, enquanto os atros Karin Viard e François Damiens fazem os pais.
Em No Ritmo do Coração, Daniel Durant é o irmão de Ruby, e Marlee Matlin e Troy Kotsur têm um encontro emblemático como o casal. Em 1987, Marlee se tornou a única surda a ganhar o Oscar de melhor atriz, por Filhos do Silêncio. Indicado ao Oscar de coadjuvante, Kotsur tem grande chance de fazer história novamente. No SAG, o prêmio do Sindicato dos Atores, ele saiu vitorioso como coadjuvante e o elenco foi laureado com o troféu principal. Kotsur está esplêndido como esse homem simples que, em uma cena de arrancar lágrimas, sente com as mãos o vibrar das cordas vocais da filha ao cantar.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: No Ritmo do Coração/Coda
Direção: Sian Heder
Duração: 111 minutos
PaÃs de Produção/Ano: EUA/França/Canadá, 2021
Elenco: Emilia Jones, Martlee Matlin, Troy Kotsur, Daniel Durant, Ferdia Walsh-Peelo, Eugenio Derbez, Amy Forsyth
Distribuição: Amazon Prime Video