Representante da Alemanha no Oscar 2023, Nada de Novo no Front não só venceu a estatueta de filme internacional, como saiu laureado com os Oscars de melhor fotografia, trilha sonora e design de produção. A produção da Netflix só perdeu em número de vitórias para Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. A primeira adaptação do romance memorialista de Erich Maria Remarque ganhou o Oscar de melhor filme e direção (Lewis Milestone) em 1930. Já a versão televisiva de 1979 passou batida. O que o cineasta alemão Edward Berger promove nesta releitura é uma imersão de fazer doer as entranhas. Vale lembrar que, em 2020, o diretor Sam Mendes se inspirou nos relatos do avô veterano da Primeira Guerra para erguer o não menos acachapante 1917.
Ambos os filmes seguem jovens soldados pelas trincheiras, com uma diferença: o protagonista de 1917 é o britânico George MacKay (Munique: No Limite da Guerra), enquanto o austríaco Felix Kammerer faz uma estreia avassaladora como o recruta Paul Bäumer. Pouco importa, contudo, que o primeiro seja membro da Tríplice Entente, formada pelos aliados Reino Unido, França e Rússia, e o segundo da Tríplice Aliança, liderada por Alemanha, império Austro-Húngaro e Itália. É o ser humano em meio à selvageria na luta pela vida que toca fundo o espectador. Entre 1914 e 1918, a Primeira Guerra deixou cerca de 10 milhões de combatentes mortos e 20 milhões de feridos.
No decorrer das quase 2h30 de duração, vemos desaparecer o brilho do olhar de Paul, radiante no discurso de saudação aos convocados. A câmera ora fica rente, ora se distancia do personagem em panorâmicas que escancaram a magnitude da carnificina. O poderio de extermínio de armas químicas como o gás mostarda, dos tanques e lança-chamas assombrou o mundo. Mas é no confronto corpo a corpo, com baionetas e machados, que o diretor Berger agiganta o valor de cada vida ceifada pela conquista de meio metro de terreno.
Embora protagonize, Paul não monopoliza a trama. Nos períodos em que “não há nada de novo no front”, o enredo dá alma a seus companheiros de pelotão. Compartilhamos anseios, saudades e desejos de uma moçada que teima em acreditar no futuro. Rosto mais conhecido do elenco, Daniel Brühl (Rush: No Limite da Emoção) interpreta Matthias Erzberger, político pacifista alemão que assinou o tratado de paz que encerrou a guerra. Saltam aos olhos os luxuosos vagões de trem em que se locomovia e a pujança à mesa do alto escalão. Nas fétidas e lamacentas trincheiras, reinava a fome, o frio e a doença.
Direção de arte, figurino e fotografia moldam com precisão o horror. É a trilha sonora de Volker Bertelmann, porém, que se eleva com uma potência desconcertante. Percussão cadenciada e cordas graves ditam o ritmo de tensão e suspense. Oscar mais que merecido. Mas nada prepara o espectador para o desfecho, implacável, que ganha ainda mais relevância para quem lembrar de uma frase dita por Paul às vésperas do armistício. “Tenho medo do que está por vir.”
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Nada de Novo no Front/Im Westen nichts Neues
Direção: Edward Berger
Duração: 148 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Alemanha/EUA/Reino Unido, 2022
Elenco: Felix Kammerer, Albrecht Schuch, Daniel Brühl, Sebastian Hülk, Anton von Lucke
Distribuição: Netflix
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