Quando receberam a estatueta de melhor direção do Spirit Awards, o disputado prêmio do cinema independente, os irmãos Benny e Josh Safdie subiram ao palco e agradeceram juntos, cada um sobrepondo a sua fala à do outro. Pouco ou nada se entendeu, mas deu o que falar. Essa performance meio atabalhoada de certa forma traduz o estilo dos badalados diretores, embora Joias Brutas seja apenas seu segundo longa-metragem de destaque, depois de Bom Comportamento, com Robert Pattinson (O Farol). O filme ainda ganhou o Spirit de melhor edição, e Adam Sandler (Mistério no Mediterrâneo) recebeu o de melhor ator.
A produção da Netflix é uma overdose de elementos, estímulos, recursos e referências que vão se sobrepondo uns aos outros, e ajudam a construir o ritmo feérico, às vezes histérico mesmo. A fotografia do grande Darius Khondji (Meia-Noite em Paris) dá conta das cores, dos ambientes e climas que se sucedem à velocidade da luz, numa produção muito bem cuidada, assinada inclusive por Martin Scorsese (O Irlandês) – embora os diretores tenham feito questão de afirmar que não tiveram contato com ele.
Em tons dos anos 80, mas ambientada em 2012, a trama acompanha o judeu negociante de joias e diamantes Howard Ratner (Sandler). Ele tem uma loja imponente com portas de segurança, a esposa judia (Idina Menzel, Frozen 2), os filhos, a amante Julia (Julia Fox, jovem celebridade de festas de Manhattan que estreia no cinema), para quem deu um emprego e um apartamento luxuoso. A parceria com um cara chamado Demany (LaKeith Stanfield, Entre Facas e Segredos) é bastante lucrativa, já que ele traz bons clientes, celebridades da música e do esporte, para quem Howard vende os relógios falsos de Demany, que ganha comissão na venda de joias.
O problema é que Howard é um trambiqueiro inveterado, viciado em basquete e apostas, que acaba se metendo com gente perigosa e está com a corda no pescoço. Para pagar suas várias dívidas, importa uma joia bruta, um diamante (de sangue) colorido e raro das minas da Etiópia, na África, e põe à venda num leilão. Mas o jogador da NBA Kevin Garnett (o próprio) se apaixona pela pedra e a pega emprestada, para lhe dar sorte nos jogos das finais. Daí em diante, com suas camisas coloridas e elegantes, a vida de Howard despenca ladeira abaixo.
Aliás, o alucinado protagonista parece sempre estar em movimento, assim como suas mentiras para a família, os clientes, os credores e por aí vai. Ele e seus vícios fora de controle atraem a escória. Consta que o filme entrou para o quarto lugar na lista dos que mais recorrem às f-words (nosso popular f*der), mencionadas 408 vezes. Muito se comentou da performance vigorosa de Adam Sandler, onipresente em frente à câmera, mas quem o viu em Embriagado de Amor, Reine Sobre Mim e Homens, Mulheres e Filhos, sabe do que ele é capaz longe das suas habituais comédias. Sandler faz a lapidação das faces de Howard com uma dedicação notável, mas o personagem, como o filme, talvez seja mais bijuteria fina do que joia bruta.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Joias Brutas/Uncut Gems
Direção: Benny Safdie, Josh Safdie
Duração: 135 minutos
PaÃs de Produção/Ano: EUA, 2019
Elenco: Adam Sandler, Keith Williams Richards, LaKeith Stanfield, Julia Fox, Kevin Garnett, Idina Menzel, Eric Bogosian, Judd Hirsch
Distribuição: Netflix