Encabeçado por Timothée Chalamet (Me Chame Pelo Seu Nome), o elenco da nova versão de Duna provocou sensação no Festival de Veneza, em setembro, onde a produção dirigida por Denis Villeneuve foi ovacionada por 8 minutos na première mundial. Antes da estreia por aqui, prevista para 21 de outubro, valer a pena ver (ou rever) a primeira – e cultuada – adaptação do best-seller do jornalista e escritor norte-americano Frank Herbert (1920-1986). Publicado em 1963, Duna virou saga literária com mais 5 volumes.
A ambiciosa ficção científica de 1984 tinha a marca da grife Dino De Laurentiis. O lendário produtor italiano catapultou a carreira de mestres como Federico Fellini, Roberto Rossellini e Luchino Visconti, para depois invadir Hollywood e investir em sucessos como Barbarella, King Kong e Conan, O Bárbaro. A direção ficou a cargo de David Lynch, já considerado visionário pelos dois longas anteriores, Eraserhead e O Homem Elefante. O próprio cineasta escreveu o roteiro, que abre no ano de 10191, em algum lugar da galáxia.
A princesa Irulan (Virginia Madsen, Sideways), filha do imperador Padishah (José Ferrer, Moulin Rouge), faz as vezes de narradora. Ela revela que a substância mais preciosa do universo é a especiaria Melange, que tem o poder de prolongar a vida, expandir a percepção e viabilizar viagens espaciais. Mas existe em um único planeta, Arrakis, também conhecido como Duna, um lugar desértico que sofre com a escassez de água. Os nativos, da tribo Fremen, acreditam na vinda do Messias, o ser divino que promoverá a Guerra Santa, a Jihad que tirará todos das trevas. Sim, porque as dinastias estão em constante guerra interplanetária.
Nesse cenário instável somos apresentados a Paul Atreides, herdeiro do Duque Leto (Jürgen Prochnow, Uma Vida Oculta). Gente do bem. A família parte rumo a Arrakis, e ali vai enfrentar o asqueroso Barão Harkonnen (Kenneth McMillan, Amadeus) na busca pela Melange. Vermes gigantes, bruxas e seres aprimorados geneticamente habitam essa ópera espacial repleta de intrigas e traições, mas com espaço para o romance. Sean Young, que virou a cabeça de Harrison Ford dois anos antes em Blade Runner – O Caçador de Androides, aqui conquista o coração de Paul – é a estreia no cinema de Kyle MacLachlan, que repetiu a parceria com Lynch em Veludo Azul e na série Twin Peaks.
Duna foi o primeiro grande romance de ficção científica com a tarja "ecológico", mas no filme a relação entre religião, política e poder se sobrepõe em uma trama simples na essência, mas de narrativa truncada. Além da narração em off da princesa, os pensamentos dos protagonistas são ouvidos e se embaralham com os diálogos. Amparada pelos efeitos especiais de uma época em que a tecnologia ainda engatinhava, a produção compensa no elenco estelar, como nomes como Sting (na crista da onda à frente da banda The Police), Patrick Stewart, Linda Hunt e Max von Sydow.
Toda pompa não bastou para público nem crítica. David Lynch reclamou de não ter feito o corte final e decretou Duna como seu maior fracasso. O resultado é irregular, mas o tempo lhe conferiu status de cult. Para o público de hoje, tem valor de relíquia do gênero. Em 2000 saiu uma versão em minissérie, mas não ficou para a memória. O que nos leva ao projeto de Denis Villeneuve. Os dois últimos filmes do diretor são ficções científicas magníficas – A Chegada e Blade Runner 2049. Fica a torcida para que seu Duna feche a trinca no mesmo nível.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Duna/Dune
Direção: David Lynch
Duração: 137 minutos
PaÃs de Produção/Ano: EUA/México, 1984
Elenco: Kyle MacLachlan, Patrick Stewart, Jürgen Prochnow, José Ferrer, Linda Hunt, Sean Young, Kenneth McMillian, Sting, Virginia Madsen, Brad Dourif, Francesca Annis
Distribuição: Universal Pictures