Uma Vida Oculta

Terrence Malick filma sem parar, mesmo. Uma Vida Oculta foi rodado em 2016 e o cineasta passou os três anos seguintes na ilha de montagem com seus editores, para reduzir o imenso material bruto para as 2 horas e 54 minutos da cópia final. É o filme mais longo de sua carreira. O segundo, Além da Linha Vermelha (1998), tem quatro minutos a menos. Curiosamente, ambos se debruçam sobre histórias reais da Segunda Guerra Mundial. O primeiro é inspirado em um romance autobiográfico e Uma Vida Oculta resgata uma figura única: o austríaco Franz Jägerstätter, declarado mártir e beatificado pela Igreja Católica em 2007.

Também autor do roteiro, Malick realiza um épico existencialista, uma obra-prima visual e, acima de tudo, moral. Franz (August Diehl, Kursk – A Última Missão) nasceu no vilarejo rural de Sankt Radegund. Em 1940, tinha 33 anos, era casado, tinha filhas pequenas e vivia como camponês quando foi recrutado pela primeira vez para servir ao exército alemão. Ele terminou o treinamento, mas se recusou a jurar lealdade a Hitler. Mesmo assim, foi enviado de volta para casa em 1941. A fama de traidor se espalhou, e Frank e sua família se tornaram personas non gratas na comunidade. Novo chamado para o front veio em 1943, e a recusa desta vez o levou à prisão.

Com panorâmicas majestosas e imagens captadas em sua maioria na luz natural, o cineasta busca o âmago de seu protagonista. O que brota em toda sua enormidade é um homem de fé e convicção inabaláveis. Fazer parte dos horrores perpetrados pelos nazistas estava fora de cogitação. Não existe dúvida em seu tormento, apesar do lamento pelas consequências drásticas de sua decisão na vida daqueles que ama. É sofrido, admirável e de um lirismo pungente.

A narrativa linear – raridade nos filmes de Malick – costura o drama de Franz com inusitados registros de Hitler na época, cenas caseiras do Führer em momentos de calmaria, inclusive com crianças. O mal disfarçado de ser humano. Malick também desvia do clichê dos nazistas caricatos, com a presença de um capitão do exército (Matthias Schoenaerts, The Old Guard), um advogado (Alexander Fehling, Labirinto de Mentiras) e um juiz (Bruno Ganz, em seu último filme) que tentam evitar o inevitável: a execução. Uma Vida Oculta pede imersão e tela grande. É uma experiência contemplativa, avassaladora e sublime.

Ficha Técnica

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