O nova-iorquino Ari Aster chegou chegando ao universo dos longas-metragens com Hereditário (2018) e Midsommar: O Mal Não Espera a Noite (2019). A nova voz do terror tem fãs e haters na mesma medida, e volta a dividir público e crítica com Beau Tem Medo. Há, porém, uma notável diferença. Se os dois anteriores custaram cerca de US$ 10 milhões cada e arrecadaram US$ 82 milhões e US$ 48 milhões, respectivamente, o orçamento do terceiro foi de estimados US$ 35 milhões e até agora, perto de completar um mês em cartaz, ainda se aproxima dos US$ 9 milhões na bilheteria mundial.
Alerta vermelho para a produtora A2, que nunca investiu tanto em um só filme como deu carta branca para o roteirista e cineasta manter sua bizarra odisseia com exatos 2h59min de duração. Não que Aster seja sucinto. Seus longas sempre ultrapassam os 120 minutos. A questão é que em Beau Tem Medo, cada minuto é um martírio. E pensar que é inspirado em seu curta, Beau (2011), de 7 minutos. Morte, luto e questões maternais voltam à tona em um emaranhado imagético mais presunçoso do que significativo.
Sem falsa modéstia, o cineasta disse ter realizado “um Senhor dos Anéis judaico”. Menos... Está mais para uma versão distorcida de O Mágico de Oz, com uma Dorothy adulta, masculina e paranoica tentando voltar, a contragosto, para a casa da mãe, que de doce lar não tem nada, em uma jornada lisérgica repleta de lobos maus pelo caminho. Ufa! Sim, é preciso fôlego. Mas a verdade é que não há ninguém melhor para protagonizar esse pesadelo do que Joaquim Phoenix (Coringa), na pele do perturbado Beau.
Começa no fétido quarto e sala de uma vizinhança digna de filme de zumbi, onde Beau se prepara para visitar a mãe, que há muito não vê. Pela breve conversa com o terapeuta (Stephen McKinley Henderson), fica clara a cisão entre eles. Um remédio tomado sem água, ao contrário do que manda a bula, uma chave roubada, uma insana invasão de aloprados, e está instalado o tom absurdo que ditará seus passos. Não é revelar demais que, às tantas, ele é acolhido por uma família enlutada - Amy Ryan e Nathan Lane formam o casal - e aparentemente cordial.
Aster não é necessariamente original, mas ousou no terror à luz do dia de Midsommar e nas assombrações físicas e psicológicas de Hereditário. É escancarada sua intenção de impressionar. Disse que Beau Tem Medo é o longa que mais reflete sua personalidade. Coitado. “É épico, gigante, cada detalhe contém outro detalhe.” Tem razão. A passagem de Beau pela floresta, onde se mete com uma bizarra seita hippie, beira a psicodelia. A cena do julgamento na arena é uma grande interrogação. E as revelações na casa da mãe (Patti LuPone) são tão dantescas quanto estapafúrdias.
Beau não tá bom da cabeça e muito menos seu criador, que transforma essa épica e supostamente íntima viagem em uma parafernália visual que muito mostra e pouco diz. Quer ver uma história maluca sobre relações conflituosas entre mãe e filho (no caso, filha), assista ao vencedor do Oscar de melhor filme deste ano, Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo. Esse pelo menos faz sentido e tem sentimento.
Trailer
Ficha Técnica
Título: Beau Tem Medo / Beau Is Afraid
Direção: Ari Aster
Duração: 179 minutos
País de Produção/Ano: EUA, Reino Unido, Finlândia, 2023
Elenco: Joaquin Phoenix, Amy Ryan, Nathan Lane, Patti LuPone, Parker Posey, Stephen McKinley Henderson, Denis Ménochet
Distribuição: Diamond Films