Há muito de A Ilha do Medo (2010) em As Linhas Tortas de Deus. No perturbador filme de Martin Scorsese, Leonardo DiCaprio faz o policial federal atrás do paradeiro da paciente que fugiu de um hospital psiquiátrico para criminosos, localizado na tal ilha do título. O lugar, médicos e internos lançam o personagem em uma egotrip assustadora, durante a qual nem ele nem o espectador sabe em que acreditar.
O mesmo acontece em As Linhas Tortas de Deus, produção original da Netflix que adapta o livro de Torcuato Luca de Tena (1923-1999) e se passa na Espanha da década de 1970. O diretor e corroteirista é o espanhol Oriol Paulo, um dos expoentes da nova geração do suspense. São dele também Durante a Tormenta, Um Contratempo e a minissérie O Inocente – os dois últimos com o astro Mario Casas.
O cineasta distorce a realidade no momento em que apresenta a protagonista, Alice Gould (Bárbara Lennie, A Desordem que Ficou). Ela se interna em um sanatório como “legalmente sequestrada pelo marido”, que a acusa de tentar assassiná-lo três vezes. Mas na verdade está ali infiltrada, a serviço do pai de um paciente que morreu em circunstâncias misteriosas. Detetive particular ou mitômana?
O enredo usa flashbacks com esperteza, sem nunca deixar claro em qual lugar da linha temporal está cada evento. É um quebra-cabeça dificílimo de montar. Alice é uma mulher inteligente e manipula a direção do sanatório para conduzir a investigação. A relação dela com os internos, tipos bizzaros, aumenta a aura surreal que envolve aquele ambiente. Não faltam reviravoltas, mas o final pode deixar alguns frustrados.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: As Linhas Tortas de Deus/Los renglones torcidos de Dios
Direção: Oriol Paulo
Duração: 134 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Espanha, 2022
Elenco: Bárbara Lennie, Eduard Fernandéz, Loreto Mauleón, Javier Beltrán, Pablo Derqui
Distribuição: Netflix