A minissérie O Inocente é recomendada para maiores de 18 anos. Faz sentido. A violência é pesada e explícita. Temas pesados como prostituição e exploração da mulher são retratados sem cerimônia. Dito isso, a nova parceria de Mario Casas, o astro espanhol do momento, e Oriol Paulo (Durante a Tormenta), seu conterrâneo e cineasta, é daqueles thrillers policiais que mantém o suspense até o último minuto. Coincidência ou não, além de serem atrações da Netflix, tanto O Inocente quanto o anterior, Um Contratempo, têm o protagonista envolvido com um assassinato.
A diferença é que o diretor não parte de roteiro de sua autoria. Desta vez adapta o romance do norte-americano Harlan Coben, escritor de histórias de mistério também queridinho da Netflix, que tem no catálogo séries inspiradas em outros de seus best-sellers, como Silêncio na Floresta e Não Fale com Estranhos. No primeiro dos oito episódios de O Inocente, o estudante de direito Mateo Vidal (Mario Casas) se mete em uma briga boba e, na pancadaria, empurra um jovem que morre ao bater a cabeça. Acidente? Ele jura que sim, mas é condenado e fica preso por quatro anos.
O próprio Mateo resume um período de nove anos de sua vida, do momento fatídico, passando por apuros com outros detentos a traumas familiares. E fecha com a retomada ao lado de Olívia (Aura Garrido), por quem se apaixona em uma saída temporária da cadeia. Tudo lindo, só que não. Pois ela recebe um telefonema suspeito e então o espectador pode se preparar porque ninguém aqui é transparente. O segundo episódio abre com a história de uma garotinha também marcada por uma tragédia e que no futuro torna-se a investigadora Lorena Ortiz (Alexandra Jiménez, Gente que Vai e Volta).
Lorena assume o caso do suposto suicídio de uma freira, cujo rastro a leva de Barcelona a Marbella. A policial será a intersecção entre dois mundos muito distintos, o de Mateo e o de Olívia. Na mesma toada, os capítulos seguintes são mini sagas da vida de personagens fundamentais para a solução do mistério. Quem, afinal, é realmente inocente nesse legítimo jogo de liga-pontos, que deixa o espectador vidrado até o circuito se fechar? O amontoado de informação chega a confundir, e o enredo dá pequenas derrapadas com algumas soluções atropeladas. Ao dar tempo e espaço para protagonistas e coadjuvantes, porém, o diretor deixa seu elenco brilhar e O Inocente ganha densidade com arcos dramáticos bem desenhados.
Além de Mario Casas, o cineasta reúne José Coronado e Ana Wagener do time de Um Contratempo. Ele na pele do agente federal Teo Aguilar, uma pedra no sapato de Lorena, ela como Sonia, a mãe do rapaz morto na briga com Mateo. Entre todos os encontros e desencontros no trânsito frenético de personagens, a tocante relação entre Sonia e Mateo é a melhor da série. Do luto vem o perdão, o carinho, o maternalismo e a crença em segundas chances. É uma dupla e tanto.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: O Inocente/El Inocente
Direção: Oriol Paulo
Duração: 55 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Espanha, 2021
Elenco: Mario Casas, Aura Garrido, José Coronado, Sam Feuer, Alexandra Jiménez, Martina Gusman, Susi Sánchez, Ana Wagener
Distribuição: Netflix