Gente que Vai e Volta

É um legítimo prazer ver Carmen Maura, a musa de Pedro Almodóvar em Matador (1986), A Lei do Desejo (1987) e Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988), como a matriarca de uma família espanhola do interior, tão disfuncional quanto afetiva. Não somos todas? Angela é vidente com dom de cura, e vive basicamente das doações com as quais seus “clientes” pagam as consultas – em geral, comida.

Na sua casa com um alpendre espaçoso, mora apenas o filho caçula León (Carlos Cuevas), gay assumido e apaixonado por um policial, ainda no armário. Na sua pequena e praiana cidade, moram duas das três filhas: a circunspecta prefeita Irene (Alexandra Jiménez, Toc Toc), mãe de um pequeno niilista, e a jovem Débora (Paula Malia), que não deixa ninguém ver seu bebê de colo, sempre coberto por uma mantinha. Na capital Madri vive Bea (Clara Lago, A Grande Dama do Cinema), arquiteta subutilizada num grande escritório no qual trabalha seu namorado.

Prestes a marcar a data do casamento, Bea descobre a traição do amado com uma famosa repórter de TV. Desfaz o compromisso, pede demissão e vai visitar a família em crise total. Logo ao chegar na cidade, tem um encontro nada amigável com o cobiçado viúvo rico e bonitão Juan (Eduardo Ferrés). Em casa, reencontra os irmãos, o quarto e os sonhos de infância, além do carinho da mãe em meio ao entra e sai de gente no caloroso e caótico lar da família.

A dramédia de situações é um gênero caro ao cinema espanhol, mas a estreante em longas Patricia Font acerta o ritmo na adaptação do best-seller espanhol homônimo de Laura Norton. Se o infortúnio de Bea é o fio condutor da narrativa, são os desdobramentos da sua trajetória entre a família e a cidade que se destacam, ora lunáticos, ora ternos. Bea – e nós também – vai descobrir que às vezes é preciso se despedir do passado para deixar o futuro entrar. Gente que Vai e Volta trata esse rito de forma leve e bem-humorada. Um frescor para esses dias de confinamento.

Ficha Técnica

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