As 8 Montanhas

Em 2014, o belga Felix van Groeningen colocou seu país na disputa pelo Oscar de Filme Internacional, por Alabama Monroe. A relação de um casal apaixonado, embora antagônico, é testada quando a filha adoece. Relação familiar em crise também é o mote de sua estreia em língua inglesa, Querido Menino. A produção de 2018 reúne Steve Carell e Timothée Chalamet como pai e filho em uma ingrata luta conta o vício do rapaz. Em seu novo trabalho, As 8 Montanhas, o cineasta aposta no italiano. Os irmãos em cena não são de sangue, mas há algo de épico nessa relação fraternal que conquistou o Prêmio do Júri no Festival de Cannes 2022.

Em cartaz nos cinemas, o filme é baseado no livro homônimo de Paolo Cognetti, vencedor do Prêmio Strega. Começa no verão de 1984, no vilarejo de Grana, aos pés do Monte Rosa, nos Alpes Peninos. É ali que Pietro (Lupo Barbiero) passa as férias ao lado da mãe, longe da urbana Turim. O fascínio do garoto de 12 anos pela rotina campestre aumenta quando conhece Bruno (Cristiano Sassella), única criança local, da mesma idade, mas de pouco estudo. Com ele, Pietro se aventura por trilhas pelas montanhas e aprende sobre a pecuária e a produção artesanal de queijo.

A figura paterna é importante. O pai de Pietro se faz presente aos fins de semana, quando leva os dois amigos por caminhadas arriscadas em picos nevados. O cenário é maravilhoso. O pai de Bruno não aparece, mas sabe-se que é operário e não estimula a educação formal do menino. É pelo olhar do Pietro adulto que a narrativa percorre três décadas dessa amizade que dispensa explicações, porque na verdade elas inexistem. É uma sintonia de almas, mas não de propósitos. Há um afastamento na juventude e o reencontro, quinze anos depois, traz revelações e um confronto entre bagagens de vida.

Nessa terceira fase, Pietro é interpretado pelo premiado Luca Marinelli (Martin Eden) e Bruno, por Alexandre Borghi (série Suburra – Sangue em Roma). A reconstrução de um chalé, fruto de uma herança, reascende o afeto, porém deixa nítida a diferença de ideais. Há um descompasso dramático, talvez porque Groeningen e sua mulher, Charlotte Vandermeersch, parceria no roteiro e na direção, exagerem nos silêncios. Fica um vácuo na autenticação dessa conexão tão profunda. Os romances de cada um também sofrem com certa inverossimilhança.

“É uma amizade carinhosa, onde a competição não tem lugar. Mesmo que nem sempre seja fácil, cada um respeita a liberdade do outro”, dizem os cineastas em entrevista de divulgação. As 8 Montanhas ganha densidade nas reflexões de Pietro sobre o remorso em relação ao pai, por quem nunca demonstrou admiração, sobre a aceitação do destino que Bruno forjou para si mesmo, e, acima de tudo, sobre as luzes e as sombras da vida.

Ficha Técnica

Garanta seu Ingresso!