Querido Menino

Há uma coisa que toca fundo na alma em Querido Menino, principalmente na de quem tem filho. É uma interrogação que martela na cabeça em situações de crise: “Onde foi que eu errei?”. As respostas se apresentam nessa história real, mas não são escancaradas. Estão em comentários, diálogos e momentos aparentemente corriqueiros, mas que, juntos, formam um painel elucidativo das razões pelas quais o jovem Nic Sheff mergulhou no mundo das drogas. Aos 18 anos, estava viciado em cristal – uma metanfetamina que vicia mais que heroína e destrói o organismo mais que o crack.

O próprio Nic narra sua luta contra o vício em Cristal na Veia (disponível na Amazon), que se tornou best-seller e foi comparado a Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída, marco da literatura dos anos 70, adaptado para o cinema em 1981. Curiosamente, o pai dele, o jornalista David Sheff, conta o seu lado dessa história em Querido Menino: a jornada de um pai com o filho viciado (disponível na Amazon), lançado na mesma época. Os dois livros serviram de inspiração para Querido Menino. 

O diretor belga Felix van Groeningen (Alabama Monroe) conduz o espectador por uma viagem sem concessões pelo universo da droga, mas também pelos meandros das relações familiares. Um dos atores mais badalados da nova geração, o nova-iorquino Timothée Chalamet concorreu ao Oscar por Me Chame Pelo Seu Nome (2017). A acachapante performance em Querido Menino o colocou de volta ao circuito de prêmios, como coadjuvante – Globo de Ouro, Bafta, Sindicato dos Atores... só faltou o Oscar.

O protagonismo, desta vez, está centrado em Steve Carell, no papel do pai desesperado e suas inúmeras tentativas de salvar o filho da morte. Não falta ternura na relação entre eles, tanto que a guarda de Nic ficou com David após a separação. A madrasta (Maura Tierney) e os meio-irmãos são totalmente do bem, e não dá para acusar a mãe (Amy Ryan) de abandono. Dentro do caos que pode ser um divórcio, a pintura neste caso até que é colorida. Só que não... Esse é o mote para bons debates após a sessão: o tamanho do buraco, e a forma como Nic tenta preenchê-lo.

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