sábado, 31 de maio de 2025
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A Última Coisa que Ele Queria


A Última Coisa que Ele Queria
Assista Agora!
Netflix

Há filmes que, apesar da má qualidade apregoada pela crítica especializada aos quatro ventos, ressoam de alguma maneira no público e tornam-se grandes sucessos, como Mistério no Mediterrâneo. Há outros que, simplesmente, filiam-se ao gênero catástrofe, mesmo sem terremotos, vulcões, tornados ou prenúncios do fim do mundo, como o lançamento A Última Coisa que Ele Queria. Nos dois casos, é curioso tentar entender os porquês.

A Última Coisa que Ele Queria é dirigido e coescrito por Dee Rees, a primeira mulher afro-americana a ser indicada ao Oscar de roteiro adaptado, por Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi, que também dirigiu. Como é possível ela equivocar-se tanto na adaptação do elogiado romance da premiada escritora e jornalista norte-americana Joan Didion? Pior ainda é ver um elenco de estrelas como Anne Hathaway (Oito Mulheres e Um Segredo), Ben Affleck (Operação Fronteira), Willem Dafoe (O Farol) e Rosie Perez (Aves de Rapina) completamente perdido e deslocado, embora seja compreensível face à construção artificial e desconectada da narrativa.

A Última Coisa que Ele Queria

O thriller tem como pano de fundo a ofensiva do governo Ronald Reagan (1981-1989) na América Central, para conter a influência crescente de Cuba e do socialismo nos países da região. Mais especificamente em El Salvador e na Nicarágua, onde a Frente Sandinista havia derrotado, em 1979, mais de 50 anos da ditadura dos Somoza, alinhada com os norte-americanos, que passaram a enviar armas para os “contras”, a guerrilha antissocialista.

O filme começa com a determinada jornalista Elena McMahon (Anne Hathaway) e sua fiel repórter fotográfica (Rosie Perez) cobrindo os conflitos políticos em El Salvador em 1982. Obcecada com a suspeita do envolvimento de seu país nas dezenas de mortes que presenciou, Elena acaba trazendo problemas para o seu jornal, e é deslocada para a cobertura das eleições de 1984. De repente, seu pai (William Dafoe) cai doente e lhe pede que finalize um negócio que vai garantir a sua aposentadoria – uma operação de tráfico de armas para a Nicarágua.

A Última Coisa que Ele Queria

A ação é uma armadilha para desacreditar Elena e suas acusações contra o governo, na figura de Treat Morrison (Ben Affleck), um influente conselheiro do secretário de Estado de Reagan, que também pode ser um agente da CIA. Pois não é que os dois acabam na cama, numa das cenas de casal mais constrangedoras que eu já vi. E olha que já vi muitas. Assim, para realizar o último desejo do pai que, diga-se de passagem, a abandonou quando criança, essa incansável jornalista decide receber o dinheiro do contrabando, custe o que custar.

Helena acaba jogada de capital em capital da América Central, sem passaporte e com cocaína na bolsa, e sem a menor ideia do que está acontecendo com ela ou em torno dela. Nem o espectador, que ainda é submetido ao relato da dura vida de abandono, separação e doença de Elena, ela própria mãe distante de uma pré-adolescente educada num colégio interno. Sem mencionar a indecifrável charada de quem é quem entre os personagens secundários. Eis aí por que A Última Coisa que Ele Queria poderia figurar no dicionário como exemplo da expressão “sem pé, nem cabeça”.




Trailer

Ficha Técnica

Título: A Última Coisa que Ele Queria/The Last Thing He Wanted
Direção: Dee Rees
Duração: 115 minutos

País de Produção/Ano: EUA, 2020
Elenco: Anne Hathaway, Ben Affleck, Rosie Perez, Willem Dafoe, Edi Gathegi, Toby Jones
Distribuição: Netflix

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Fátima Gigliotti

Fátima Gigliotti

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Cinéfila incorrigível, jornalista, editora, professora (não muito), crítica (chatinha) de cinema e audiovisual. Trabalhou no jornal A Folha de São Paulo, na coleção Cinemateca Veja, nas revistas TVA, Ver Vídeo, Set, Querida e Preview.