A Mulher na Janela

O romance A Mulher na Janela vendeu mais de 1 milhão de cópias só nos Estados Unidos, e foi traduzido em 38 línguas. Era grande a expectativa pela adaptação do best-seller de A.J. Finn, lançado em 2018. E time melhor não havia para tocar a produção da Netflix. O diretor inglês Joe Wright (O Destino de Uma Nação) assinou as primorosas adaptações de Orgulho & Preconceito (2005), da obra de Jane Austen, e Desejo e Reparação (2007), do livro de Ian McEwan, além da inovadora versão do clássico de Leon Tolstói, Anna Karenina (2012).

A seu dispor, ele tinha um elenco estelar encabeçado por Amy Adams (A Chegada), Gary Oldman (Mank) e Julianne Moore (As Vidas de Glória), e uma história original que celebra Alfred Hitchcock e seu Janela Indiscreta (1954). A protagonista, Anna Fox (Amy Adams) é psicóloga e mora sozinha em uma casa grande em Nova York. O lugar é adornado meticulosamente por uma direção de arte que investe em cores sóbrias e pouca luz. Separada do marido (Anthony Mackie, O Banqueiro) e da filha (Mariah Bozeman), Anna não sai de casa porque sofre de agorafobia, um transtorno de ansiedade que lembra a síndrome do pânico, embora mais relacionado a locais públicos.

Seu dia a dia resume-se a alimentar o gato, tomar remédios e vinho – uma mistura nada indicada –, assistir a filmes antigos e espiar a vida alheia pela janela. Sim, ela também tem uma máquina fotográfica, como James Stewart no clássico de Hitchcock. É assim que acompanha a mudança dos Russell, pai (Gary Oldman), mãe (Julianne Moore) e filho adolescente (Fred Hechinger, Relatos do Mundo), para a casa do outro lado da rua. A trama esquenta quando Anna acredita ter visto a vizinha ser assassinada, mas o espectador toma uma ducha fria quando a causa de sua agorafobia é revelada e tudo começa a sair dos trilhos.

A presença da polícia rompe a rotina solitária de Anna, que ainda tem de lidar com problemas com o inquilino (Wyatt Russell, Operação Overlord), que mora no porão, e as visitas do psiquiatra. Este último é interpretado pelo ator, premiado dramaturgo e roteirista Tracy Letts, que merece atenção por ser também o autor do roteiro adaptado. Só que o texto sofreu mudanças depois que exibições teste soaram o alarme de rejeição do público, e refilmagens foram feitas com ajustes do roteirista Tony Gilroy (Rogue One). Conclusão: problemas de produção transformaram um instigante thriller psicológico em um suspense genérico e previsível.

Pois é... O enredo oferece soluções óbvias e o embate final (sem spoilers) beira o trash. Ainda assim, sejamos justos, Amy Adams é uma grande atriz. Tem seis indicações ao Oscar e é do tipo que se despe de qualquer vaidade para encarnar uma personagem – vide sua Anna e a drogada de Era Uma Vez Um Sonho, também da Netflix. A Mulher na Janela trabalha bem os signos do suspense e deixa o público ligado, só que não passa do razoável. Muito talento envolvido para pouco filme.  

Ficha Técnica

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