Richard Linklater tem apreço pelo ser humano e pela passagem do tempo na vida das pessoas. Se a trilogia romântica Antes do Amanhecer, Antes do Pôr do Sol e Antes de Meia Noite registrou os encontros dos protagonistas Ethan Hawke e Julie Delpy em 1995, 2004 e 2013, o premiado Boyhood: da Infância à Juventude foi filmado no decorrer de 12 anos, para mostrar o rito de passagem de um garotinho até a maioridade. Não estranha, portanto, que o cineasta tenha se encantado com o best-seller de Maria Semple, Cadê Você, Bernadette?.

O enredo também tem um intervalo temporal, no caso duas décadas na vida da protagonista. A Bernadette (Cate Blanchett) do presente tem uma filha de 15 anos (a estreante Emma Nelson), é casada com um guro da Microsoft (Billy Crudup, de Depois do Casamento) e mora em Seattle num casarão caindo aos pedaços. Reclusa e instável, ela tem uma assistente virtual baseada na Índia para realizar tarefas básicas. Nem sempre foi assim. Bernadette vivia em Los Angeles e ali se revelou um gênio da arquitetura sustentável.

O que há nesse miolo, que a fez se transformar nessa mãe carinhosa e dona de casa desleixada, perdida de si mesma, é o que Linklater pretende revelar. E o faz pela perspectiva da filha, que exibe um boletim com notas impecáveis e pede uma viagem com os pais à Antárdida como prêmio. A maternidade está no centro da trama, que também explora o afastamento do casal e as desavenças de Bernadette com a vizinha (Kristen Wiig, Missão Madrinha de Casamento).

O problema é que desta vez Linklater não se enamorou de sua personagem principal, embora a duplamente oscarizada Cate Blanchett (Blue Jasmine e O Aviador) crie todo um gestual para lhe dar autenticidade. Bernadette sofre, mas o diretor não examina seus sentimentos, apenas suas reações. Estaria perdendo a razão? Se sim, por quê? É como se ele próprio estivesse à procura de Bernadette, e não conseguisse encontrá-la. O espectador, então, observa essa busca meio alienado, sem se conectar com o que está na tela. Não deu liga.

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