Ele tem um quê de Joaquin Phoenix, uma imperfeição charmosa no falar, um talento enorme e uma carreira em franca ascensão. Nascido em 2 de fevereiro na Alemanha de 1986, Franz Rogowski esteve há pouco nos cinemas brasileiros no sensorial drama Disco Boy e continua em cartaz no provocador Passagens (2023). Quem dirige é o norte-americano Irah Sachs, que em 2014 reuniu John Lithgow e Alfred Molina como o casal de O Amor é Estranho. Curioso que o parceiro de roteiro em ambos é o brasileiro Mauricio Zacharias. O carioca também é colaborador do nosso Karim Aïnouz, como coautor de Madame Satã (2002) e O Céu de Suely (2006). Todos filmes voltados para o ser humano e suas complexidades.
Rogowski é camaleônico não no físico, muito marcante, mas na energia singular que cria para cada personagem. A excentricidade egocêntrica do cineasta que interpreta em Passagens contrasta com o contido refugiado de Em Trânsito (2018), de Christian Petzold, para quem voltou a atuar no fantasioso romance Undine (2020). São tipos bem diferentes do jovem delinquente que complica a vida da espanhola Laia Costa no eletrizante Victoria (2015).
Seu mais recente trabalho, Lubo, do italiano Giorgio Diritti, disputou o Leão de Ouro no Festival de Veneza. Enquanto esse e outros filmes de Rogowski não chegam por aqui, vale acompanhar de perto sua trajetória. Na Lista Especial, reunimos a novidade nos cinemas e três títulos disponíveis em streaming, com o atalho para a compra de ingressos e plataformas digitais.
Drama

Passagens / Passages
Ira Sachs escreveu Passagens com Franz Rogowski em mente, depois de vê-lo em Happy End (2017), de Michael Haneke. Sabia que teria nele um intérprete destemido para ser o vértice de um polêmico triângulo amoroso, um homem apaixonado pela própria arte e por si mesmo. Cineasta badalado, Tomas vive há quinze anos com Martin (Ben Whishaw, Entre Mulheres) em Paris, e a relação está em ponto morto. Fica claro que a fidelidade nunca foi via de regra entre o casal. Ele conhece Agathe (Adèle Exarchopoulos, Azul é a Cor Mais Quente) na festa de comemoração de seu novo filme e os dois começam um tórrido romance.
Cenas de sexo que beiram o explícito são de certa forma reflexo desse protagonista intenso e instável, amoroso e cruel, confiante e inseguro, maduro e infantil, que testa a sanidade daqueles que se deixam apaixonar por ele. Sachs não julga, mas não condescende com os caminhos errantes para os quais Tomas arrasta junto Martin e Agathe. “Ele é um criador de atritos, mestre em infligir o caos”, diz Rogoswki em entrevista de divulgação. Passagens é íntimo e o diretor esmiúça os protagonistas mais por atos, e menos por diálogos. É um filme sobre prisões sentimentais e manipulação, mas também sobre tomar as rédeas e abrir passagem para a felicidade.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Passagens / Passages
Direção: Ira Sachs
Duração: 91 minutos
PaÃs de Produção/Ano: França, Alemanha, 2023
Elenco: Franz Rogowski, Ben Whishaw, Adèle Exarchopoulos, Erwan Kepoa Falé
Distribuição: O2 Play, MUBI
Romance Drama

Undine
Na mitologia, Undina, no latim, ou Ondina, em português, é um elemento religioso associado à água, às ondas. Foi mencionado pela primeira vez pelo teólogo e alquimista suíço Paracelso, lá no século 15. Sua personificação seria a Ninfa da água, ou a nossa popular sereia. A dica está no título de Undine, que deu à Paula Beer o Urso de Prata de melhor atriz no Festival de Berlim 2020. O feminino é a matéria-prima do diretor alemão Christian Petzold, o mesmo de Barbara (2012), Fênix (2014) e Em Trânsito (2018). Em terra firme, Undine é historiadora, guia do Departamento de Desenvolvimento Urbano e Habitação de Berlim. Franz Rogowski é Christoph, mergulhador profissional. É fabular o encontro dos futuros enamorados, cuja ligação tem toques sobrenaturais.
A natureza e a urbanidade se confrontam nesse romance fantasioso nos sentimentos, mas que finca os pés no chão na realidade da mulher. O crescimento urbano da Berlim reunificada em 1990 está representado na enorme maquete que Undine explica para visitantes. Sua profissão, concreta, se contrapõe a seu espírito lírico. Ela lida com a baixa valorização no trabalho e com o fim de uma relação tóxica com Johannes (Jacob Matschenz), o arquétipo do canalha. Em um de seus papéis mais sensíveis, Rogowski é um homem (príncipe) das águas. Ele enxerga a natureza de Undine, admira seu intelecto, escuta seu coração, até quando não deveria. Há reviravoltas que demandam o mergulho do espectador no fantástico. Para quem embarcar, Undine é fascinante.
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Ficha Técnica
TÃtulo: Undine
Direção: Christian Petzold
Duração: 91 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Alemanha, França, 2020
Elenco: Franz Rogowski, Paula Beer, Jacob Matschenz, Maryam Zaree
Distribuição: Imovision
Drama

Em Trânsito / Transit
por Fátima Gigliotti
Primeira reunião de Franz Rogowski e Paula Beer sob a batuta de Christian Petzold, Em Trânsito é inspirado no romance homônimo da alemã Anna Seghers (1900-1983). Ambientado em 1942, narra a história de um fugitivo do nazismo que assume a identidade de um escritor morto e viaja para Marselha na esperança de imigrar para o México. Lá, apaixona-se pela esposa do escritor, que havia abandonado o marido para viver com um médico. No roteiro, Petzold traz a história para os dias atuais, em uma Europa novamente assolada pelo fascismo alemão, mas agora o alvo são os refugiados, expatriados, vindos de longe ou em circulação entre os próprios países europeus.
Rogowski está contido, no melhor dos sentidos, como o alemão Georg, que viaja clandestinamente para Marselha e encanta-se por Marie (Paula Beer). O cenário francês e europeu é de autoritarismo, fuga, violência, desamparo, discriminação, vergonha, desterro e solidão. Um narrador comenta os dias de Georg em Marselha, a luta para conseguir documentos de imigração, os encontros com Marie, seu amante e outros refugiados. O romance parece ser um alívio narrativo para as histórias de desolação que cercam Georg, mas o que as transforma em relatos líricos, quase-poesia cinematográfica, é o belíssimo texto do roteiro, emoldurado por sequências cuidadosamente construídas.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Em Trânsito / Transit
Direção: Christian Petzold
Duração: 101 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Alemanha, França , 2018
Elenco: Franz Rogowski, Paula Beer, Godehard Giese, Lilien Batman, Maryam Zaree, Barbara Auer, Matthias Brandt
Distribuição: Supo Mungam
Romance Thriller

Victoria
Na produção alemã comandada por Sebastian Schipper, a câmera segue em tempo real uma jovem espanhola que está em Berlim, onde conhece quatro rapazes em uma balada. Franz Rogowski é um deles. Ela simplesmente sai com a trupe de amigos e topa tudo, sem ter noção do risco. São 138 minutos de plano-sequência, sem cortes pra valer. O diretor fez três tentativas até conseguir seguir a personagem sem desligar a câmera do começo ao fim. Tome fôlego.
Laia Costa (A Vida em Si) dá o seu melhor na pele dessa moça cuja sede pela vida é maior do que o instinto de sobrevivência. Victoria está interessada em Sonne (Frederick Lau), e a trama revela um pouco de seu passado solitário para explicar como o amor e a amizade, que ela testemunha e experimenta pela primeira vez, faz com que não hesite em sem envolver em perigos. Porque essa turma vai se encrencar, e feio, e o personagem de Rogowski é o grande catalizador das ações que os colocam na mira de bandidos e da polícia.
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Ficha Técnica
TÃtulo: Victoria
Direção: Sebastian Schipper
Duração: 138 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Alemanha, 2015
Elenco: Laia Costa, Frederick Lau, Franz Rogowski
Distribuição: Imovision
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