Varilux 2021: Adeus, Idiotas e Caixa Preta

A seleção do Festival Varilux de Cinema Francês deste ano está fora de série. A programação segue presencial em 49 cidades brasileiras até dia 8 de dezembro. Da lista de 17 produções inéditas, OQVER já recomendou o suspense Um Intruso no Porão. Há mais dois imperdíveis e de gêneros distintos: a comédia dramática Adeus, Idiotas, que inspirou o cartaz do evento, e o thriller psicológico Caixa Preta, com o astro Pierre Niney. Escrito, dirigido e interpretado por Albert Dupontel, Adeus, Idiotas concorreu a 12 prêmios César 2021 (o Oscar francês) e venceu em 6 categorias: melhor filme, direção, roteiro, fotografia, direção de arte e ator coadjuvante. A produção já foi vista por mais de 1 milhão de espectadores na França e tem Virginie Efira (Um Amor Impossível) à frente do elenco.

Nascida em Bruxelas, na Bélgica, a estrela era desconhecida quando esteve no Brasil para o Festival Varilux 2016, onde apresentou a comédia Um Homem à Altura. Em entrevista, contou que embora tenha estudado artes dramáticas, trabalhou como apresentadora de TV até despontar como atriz em 2007, aos 30 anos, na série televisiva Off Prime. Hoje com 4 indicações ao César, Virginie está no topo. Em 13 de janeiro poderá ser vista por aqui na pele da freira lésbica Benedetta, no polêmico drama histórico que colocou Paul Verhoeven na disputa pela Palma de Ouro em Cannes 2021. Bem mais leve, porém também trágica, sua personagem em Adeus, Idiotas é a cabeleireira Suze, que descobre ter câncer de pulmão terminal pelo excesso de inalação de sprays de cabelo. Seu último desejo é descobrir o paradeiro do filho que teve aos 15 anos e que foi entregue para a adoção.

O caminho de Suze cruza com o de Jean-Baptiste (Albert Dupontel), um especialista em TI recém-demitido que pretende cometer suicídio na sala ao lado em que ela está sendo atendida por um assistente social. Um acidente coloca os dois em rota de fuga da polícia. A trinca se completa com o arquivista cego Serge (Nicola Mairé, vencedor do César de coadjuvante), que os ajuda a resgatar o registro de nascimento do bebê. A princípio, causa estranheza que uma comédia farsesca amparada no acaso tenha concorrido a tantos prêmios. Mas aos poucos a genialidade de Dupontel banha a tela com um lirismo enternecedor que eleva a trama simples a outro patamar. Adeus, Idiotas é uma obra sobre o amor em suas mais diversas formas, e a gente só se dá conta de seu alcance emocional na etapa final.

Ao contrário de Virginie, o astro de Caixa Preta, Pierre Niney, surgiu como ator mirim aos 11 anos e aos 21 se tornou o mais jovem membro da história da Comédie Française, patrimônio da dramaturgia francesa desde sua criação, no século 17. É o único teatro estatal do país a manter uma companhia permanente de atores. Famoso mundialmente pela atuação na cinebiografia Yves Saint Laurent, Niney está distante do universo da moda no filme que começa com uma catástrofe aérea. O protagonista, Mathieu, é técnico da BEA, autoridade responsável pelas investigações de segurança na aviação civil. Dono de uma audição aguda, ele é expert na análise dos áudios de caixas pretas. Seu desafio será descobrir o que aconteceu a bordo do voo Dubai-Paris antes de bater nos alpes.

Lou de Laâge (Branca Como a Neve) faz sua esposa, também envolvida no ramo da aviação, mas na área administrativa, e o veterano André Dussollier (Sementes Podres) interpreta o chefe de Mathieu. Quem comanda as feras é o diretor e corroteirista Yann Gozlan, com quem Niney rodou outro suspense, O Homem Ideal. Atentado terrorista, erro humano ou mecânico? A teoria conspiratória é envolvente. Filmaço para quem gostou Sully: O Herói do Rio Hudson, estrelado por Tom Hanks e sobre a investigação real que sucedeu o miraculoso pouso em plena Nova York. Caixa Preta faz bom uso da tecnologia para explorar as fragilidades da segurança aérea, e coloca o protagonista em uma obsessiva egotrip na busca pela verdade. O final é potência pura.

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