Sementes Podres

“Não há ervas daninhas, nem homens maus. Há, sim, maus cultivadores”. A frase que abre Sementes Podres é do francês Victor Hugo, autor dos clássicos Os Miseráveis e O Corcunda de Notre-Dame. De Ao Mestre com Carinho, passando por Entre os Muros da Escola e Mentes Perigosas, são inúmeros os filmes sobre a diferença que um professor pode fazer na vida de um aluno. Mas é no mínimo original o educador escrito, interpretado e (auto)dirigido por Kheiron nessa comédia surpreendente. A começar pelo fato de não se tratar de um professor.

Wael (Kheiron) é um trapaceiro que tem como comparsa a mãe adotiva, Monique (Catherine Deneuve, Potiche – Esposa Troféu). Um truque serve para roubar carrinhos cheios de compras de senhores idosos na saída do supermercado. Por coincidência, uma das vítimas é Victor (André Dussolier, Não Conte à Ninguém), amigo das antigas de Monique e, este sim, um educador. Fundador de uma instituição para jovens problemáticos, ele faz a proposta: não dará queixa na polícia se Monique o ajudar como secretária e Wael substituir o professor que se acidentou, e garantir que os seis alunos do grupo voltem à aula no dia seguinte.

O combinado é por um dia, mas a esperta Monique dá um jeito inusitado de alongar esse arranjo. Sementes Podres passa então a transitar entre presente e passado, e assim o espectador conhece a triste infância de Wael, que inclui chacina familiar, miséria, roubo, a perda traumática de um amigo e o resgate por uma freira. Não é pouca coisa, mas o cineasta tem mão leve e encontra humor onde não se espera. É fazendo comédia, por sinal, que o “professor” substituto cativa a trupe com aulas nada convencionais. Aos poucos, os problemas pessoais deles também vêm à tona, e envolvem guerra de gangue, abuso e tráfico de drogas.

Não espere complexidade em Sementes Podres. O que há de sobra é delicadeza e otimismo nessa história sobre encontros fortuitos (ou não) que transformam vidas. O multitarefas Kheiron é uma figura e o sexteto juvenil é promissor. Mas nada se compara à química entre Catherine Deneuve e André Dussolier, que injetam sofisticação nesse cenário burlesco. A dupla de veteranos está demais.

Ficha Técnica

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