Tudo Pela Arte

O embalagem é melhor que o produto, mas o fato de Mick Jagger estar no elenco de Tudo Pela Arte é um chamariz considerável. Fora uma aparição em Efeito Dominó (2008), a última vez que o líder da banda The Rolling Stones atacou de ator foi em 2001, em Confissões de um Sedutor. Seu personagem nessa trama hitchcockiana é um milionário excêntrico que seduz um crítico de arte com uma proposta indecente: entrevistar com exclusividade o lendário e recluso pintor que ele abriga em sua vila italiana à beira do Lago de Como, e em troca roubar o último trabalho do artista.

Donald Sutherland (Ella e John) faz esse mestre das artes com humor capcioso, como um velho do mar que tem plena consciência da estirpe dos peixes que se aproximam do seu barco. O que nos leva ao protagonista de Tudo Pela Arte, interpretado por Claes Bang. O ator dinamarquês virou sensação na temporada de prêmios de 2017, por encabeçar o elenco do aclamado The Square – A Arte da Discórdia, vencedor da Palma de Ouro em Cannes e do Oscar 2018 de filme estrangeiro. No filme de Ruben Östlund (Força Maior), ele vivia o prestigiado curador do museu de arte contemporânea de Estocolmo, e agora encarna um pintor frustrado relegado a crítico.

Se há algo irrepreensível na adaptação do romance de Charles Willeford (1919-1988) é a palestra do crítico logo na abertura, durante lançamento do livro que escreveu sobre sua profissão. Ele mostra um quadro desconhecido, à princípio pouco valioso, e conta a história de como foi pintado, para então provar como a opinião pública é facilmente manipulável. Na plateia está a jovem interpretada por Elizabeth Debicki (As Viúvas), um tipo exótico e sensual que termina o dia em uma tórrida sessão de sexo com o protagonista. Pois o recém-formado casal vai junto ao palacete do personagem de Mick Jagger.

O diretor Giuseppe Capodonti tem aqui um quarteto misterioso, de origens, motivações e personalidades obscuras. Tudo Pela Arte bebe na fonte de Hitchcock com um intrigante suspense psicológico, mas abandona o requinte e faz opções cartunescas na etapa final. Apesar do desfecho de gosto duvidoso, o elenco e todo o luxuoso entorno merecem respeito.

Ficha Técnica

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