domingo, 03 de dezembro de 2023
Cinema Comédia Dramática

Tia Virgínia


Tia Virgínia
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Quem costuma cobrir ou frequentar o Festival de Cinema de Gramado sabe que é muito raro a plateia se manifestar durante as sessões, que reúnem jornalistas, membros do júri e público. Em 2019, Pacarrete fez história ao ser aplaudido no início da projeção. Eis que na edição deste ano Tia Virgínia levantou os ânimos e arrancou gritos entusiasmados e aplausos em mais de uma ocasião. Vencedor de cinco prêmios, entre eles os Kikitos de melhor roteiro, para o também diretor Fabio Meira, e de atriz, para a incomparável Vera Holtz, Tia Virgínia está em cartaz nos cinemas.

Tia Virgínia

De uma família de três irmãs, Virgínia, aos seus 70 anos, foi a única que andou na contramão dos padrões estabelecidos para as mulheres de sua geração. Estudou, se formou, não casou e não teve filhos. Quanta ousadia! O olhar enviesado das irmãs, interpretadas pelas grandes Arlete Salles e Louise Cardoso, vale como veredicto: Virgínia não bate bem da cabeça. O julgamento moral inclui condenação. Ficou para ela a missão de abdicar da própria vida para cuidar dos pais, ao se mudar para a casa deles. Agora resta a mãe (Vera Valdez, esplêndida, recebeu menção honrosa do júri), que não mais se comunica oralmente, mas cujos olhos dizem muito.

Tia Virgínia

Tudo se passa em um único dia, durante os preparativos para a Noite de Natal. O antigo relógio de parede faz tic-tac, mas chegados os convidados – irmãs, cunhado (Antonio Pitanga) e dois sobrinhos (Daniela Fontan e Iuri Saraiva) –, o tempo parece entrar em suspensão. Tia Virgínia é universal e atemporal na tragicômica ciranda de afetos e desafetos desse núcleo familiar com escassez de sororidade. Salvo a sintonia da protagonista com a sobrinha, sobra incompreensão e opressão sobre essa mulher idosa, ainda em busca dos próprios sonhos.

Tia Virgínia

Em seu longa anterior, As Duas Irenes (2017), Fabio Meira se inspirou em histórias que escutou da família. Agora sobe o tom biográfico ao revisitar suas memórias. “As personagens foram construídas a partir das minhas tias, mas também de inspirações de personagens clássicas do teatro e do cinema", disse na entrevista coletiva em Gramado. A aura felliniana extravasa da protagonista e contagia direção de arte, figurino, fotografia e trilha sonora. O desfecho catártico, entre o real e o ilusório, é um grito, ou melhor, um riso de liberdade. Não espanta a imediata empatia do público. Ao fim da sessão, o comentário geral era “eu tenho uma tia Virgínia”.




Trailer

Ficha Técnica

Título: Tia Virgínia
Direção: Fabio Meira
Duração: 98 minutos

País de Produção/Ano: Brasil, 2023
Elenco: Vera Holtz, Arlete Salles, Louise Cardoso, Vera Valdez, Antonio Pitanga, Daniela Fontan, Iuri Saraiva, Amanda Lyra
Distribuição: Elo Studios

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Suzana Uchôa Itiberê

Suzana Uchôa Itiberê

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Cinéfila incorrigível, jornalista de plantão, crítica de cinema (não muito) chatinha e editora caprichosa. Cria do jornal O Estado de S. Paulo, trabalhou nas revistas TVA, Set, Istoé Gente e foi cofundadora da revista Preview. Membro da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema).

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