Primeiro veio a peça lançada no circuito off-Broadway, em abril de 1968, um grande risco e um grande marco. Dois anos depois, William Friedkin (Operação França) dirigiu a adaptação para o cinema, Os Rapazes da Banda. Cinco décadas à frente, em abril de 2018, estreou na Broadway a nova versão da peça, produzida por Ryan Murphy (série Glee), indicada aos prêmios Tony de Melhor Remontagem e Melhor Ator, do qual Robin de Jesús saiu vencedor. No passado, dos nove atores do elenco, seis eram gays, mas ninguém podia saber. Na nova versão, os atores são gays, e todo mundo sabe.
Mart Crowley (1935-2020), autor da peça e coautor dos roteiros dos dois longas-metragens, faz uma aparição especial idêntica em ambos. Ele é o elo vivo entre passado e presente em The Boys in the Band, sobre uma festa de aniversário que reúne sete amigos gays, na Nova York de 1968, e acaba sendo palco de inesperadas revelações e frustrações. Crowley rememora a ousadia e conta as semelhanças e diferenças das produções no consistente documentário The Boys in the Band: Um Olhar Pessoal, também em exibição na Netflix.
“Há certos eventos históricos que fazem parte de seu DNA social, e você pode ser uma versão melhor de si mesmo sabendo do que veio antes”, afirma o ator Jim Parsons (séries Hollywood e The Big Bang Theory) no documentário. Nele, o ator Zachary Quinto (Além da Escuridão: Star Trek) diz também que “para os jovens que não conhecem The Boys in the Band, acho que é um lembrete de como já foi difícil e doloroso. A peça em si era muito reveladora e inédita. Ninguém tinha visto nada parecido na época”. É reconfortante reafirmar o papel transformador da arte na cultura em defesa da diversidade e da tolerância.
Parsons como Michael, o recalcado e abrasivo anfitrião, e Quinto como Harold, o imponente aniversariante, recebem o cordato Donald (Matt Bomer, The Normal Heart), o casal em crise Larry (Andrew Rannells, A Festa de Formatura) e Tuc Watkins (A Múmia), o extrovertido Emory (Robin de Jesús, Uma Dupla Genial), e o contido Bernard (Michael Benjamin Washington) para jantar, dançar e apagar as velinhas do bolo. Charlie Carver (série Ratched) é o cowboy” que Emory trouxe de presente para Harold, e Alan (Brian Hutchison), o amigo hetero de Michael que aparece do nada, de smoking, para a festa.
Tanto o elenco quanto o diretor, Joe Mantello (Entre Amigos), são os mesmos da montagem de 2018. A raiz teatral é evidente, mas o cineasta abre espaços tanto dos cenários como das performances para movimentar sua câmera discreta e ritmadamente entre eles. Da alegria inicial à animosidade geral, passando por uma brincadeira infeliz, da varanda iluminada para a sala sufocante. É assim que Crowley e Montello constroem o clima desconfortável e claustrofóbico como espelho desses homens, impedidos de tocar na banda da sua própria vida, de ser eles mesmos na família, no trabalho, na sociedade e até com os amigos. É essa abordagem introspectiva dos diálogos afiados e afinados que dá à obra a atemporalidade da arte.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: The Boys in the Band
Direção: Joe Mantello
Duração: 121 minutos
PaÃs de Produção/Ano: EUA, 2020
Elenco: Jim Parsons, Zachary Quinto, Matt Bomer, Andrew Rannells, Charlie Carver, Robin de Jesus, Brian Hutchison, Michael Benjamin Washington, Tuc Watkins
Distribuição: Netflix