Em 1932, a atriz britânica Peg Entwistle pulou da letra H do famoso letreiro de Hollywood, na época ainda Hollywoodland. O trágico suicídio emoldura Hollywood, a nova minissérie de Ryan Murphy, dos premiados American Horror Story, American Crime Story e Pose. Ian Brennan, seu parceiro em Glee, é coautor. A chamada Era de Ouro de Hollywood abrange um intervalo relativamente longo, de 1920 até o fim dos anos 60. Os sete episódios se encaixam no pós-guerra, entre 1946 e 1947.
A meca do cinema estava a todo vapor e é pelos portões do fictício Ace Studios que pretende passar uma multidão de aspirantes a um lugar ao sol na terra dos sonhos, e das ilusões. Entre eles, o galã Jack (David Corenswet), o roteirista negro e gay Archie (Jeremy Pope), a loira platinada Claire (Samara Weaving), o cineasta Raymond (Darren Cris), a atriz negra Camille (Laura Harrier) e o caipira Roy (Jake Picking) – este último o futuro Rock Hudson, astro de Assim Caminha a Humanidade e único da trupe de jovens inspirado em personagem real. Todos eles vão estar de alguma forma conectados ao figura Ernie (Dylan McDermott), um ator frustrado que usa seu posto de gasolina como fachada de um bordel exclusivo para a alta-roda.
Quem conhece um pouco da história do cinema vai identificar outras celebridades verídicas e se ligar que, a exemplo de Rock Hudson, Anna May Wong (Michelle Krusiec) e Hattie McDaniel (Queen Latifah) não estão na trama por acaso. A atriz de descendência asiática sempre foi relegada a tipos estereotipados e Hattie, a primeira negra a ganhar um Oscar (de coadjuvante por ...E o Vento Levou), nunca chegou a ser protagonista. Hollywood levanta a bandeira dos marginalizados, vítimas de machismo, racismo e homofobia. Homossexuais, por exemplo, só saíam do armário em festas de arromba privadas, algumas recriadas com todo o luxo e requinte.
Os episódios iniciais são mais ousados, com cenas de sexo e humor picante. A produção de um filme inspirado na atriz que se matou vai promover o cruzamento dos personagens. Sempre voltada aos bastidores, a história também valoriza produtores, preparadores de elencos, montadores e, claro, os donos dos estúdios. O que mais se aproxima de um vilão é o devasso agente de talentos Henry Willson (Jim Parsons), que existiu e era famoso por aplicar o teste do sofá nos seus protegidos, Rock Hudson entre eles.
No andar da carruagem, porém, o enredo abandona um certo frenesi e finca os dois pés no universo do conto de fadas. Murphy e Brennan entram na onda de Tarantino, que reescreveu a História a seu bel-prazer em Bastardos Inglórios e Era Uma Vez em... Hollywood. O problema é que apresentam soluções de um otimismo tão ingênuo que soa inverossímil e adocicado. Emociona, é verdade, mas na etapa final Hollywood é hollywoodiano demais.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Hollywood
Direção: Vários
Duração: 50 minutos
PaÃs de Produção/Ano: EUA, 2020
Elenco: David Corenswet, Darren Criss, Laura Harrier, Dylan McDermott, Jake Picking, Jeremy Pope, Holland Taylor, Samara Weaving, Jim Parsons
Distribuição: Netflix