Synonymes recebeu o Urso de Ouro de melhor filme e o Prêmio da Crítica no Festival de Berlim deste ano. O diretor israelense Nadav Lapid já tinha se destacado com A Professora do Jardim de Infância (2014), que ganhou versão hollywoodiana no ano passado, estrelada por Maggie Gyllenhaal (O Sorriso de Mona Lisa) e Gael García Bernal (Estás Me Matando Susana), mas a premiação de Berlim não deixou de despertar polêmica - a meu ver, com toda razão.
Sim, Tom Mercier é um furacão em cena. Para escrever o roteiro, Lapid inspirou-se nas próprias experiências de recém-exilado em Paris, quando se recusava a falar hebraico. Dentre os muitos sinônimos do filme, há uma crítica aberta ao militarismo israelense e ao belicismo global e outra, talvez mais velada, ao preconceito contra o judaísmo. O cineasta ainda ironiza, aí sim de forma mordaz, a idealização da França como berço da civilização moderna. Synonymes trata, sobretudo, da busca por identidade e integridade num mundo eticamente fragmentado.
Yoav (Mercier) chega a Paris fugido de Israel e do exército, com a roupa do corpo e uma mochila nas costas, que lhe são roubadas e deixam-no literalmente nu no gélido inverno da cidade. Quem o salva da morte são os vizinhos de apartamento Emile (Quentin Dolmaire, O Formidável) e Caroline (Louise Chevillotte), um jovem casal burguês do tradicional imaginário francês: ricos, aristocratas, ele todo blasé a escrever seu primeiro livro, ela sedutora e “libertina”, menos durante os ensaios com o seu oboé. Os dois adotam o novo amigo, se maravilham com suas épicas histórias do exército e da infância, verdadeiras ou não, e são complacentes com as suas muitas trapalhadas.
O jovem israelense recusa-se a falar em sua língua natal e anda repetindo palavras em francês pelas ruas de Paris. Vive de macarrão num minúsculo apartamento caindo aos pedaços. Trabalha primeiro como segurança na Embaixada Israelense com seus másculos e truculentos colegas, que anualmente se debatem com os neonazistas locais. Yoav pisa na bola, é demitido, e vai ser modelo erótico para um fotógrafo depravado, entre outras aventuras pessoais. Synonymes é agitado, elétrico. Lapid tem personalidade artística, mas lhe faltou a desenvoltura narrativa para dar fluidez e consistência à jornada de seu energético e errante protagonista, além de amarrar algumas (importantes) pontas soltas.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: Synonymes
Direção: Nadav Lapid
Duração: 123 minutos
PaÃs de Produção/Ano: Alemanha/França/Israel, 2019
Elenco: Tom Mercier, Quentin Dolmaire, Louise Chevillotte, Uria Hayik, Olivier Loustau
Distribuição: Fênix Filmes/Escarlate