Os Pequenos Vestígios

Talvez seja precipitado descrever Os Pequenos Vestígios como a caça a um serial killer que mata mulheres a facadas. O psicopata está em ação e precisa ser detido, mas o thriller policial escrito e dirigido por John Lee Hancock (Um Sonho Possível) é muito mais sobre a relação de dois detetives de diferentes gerações, obcecados pelo mesmo caso. E o filme é bom porque o veterano dessa dupla é interpretado por Denzel Washington, um ator capaz de elevar qualquer trama, e essa esbarra no convencional. Seu parceiro em cena é Rami Malek, vencedor do Oscar por Bohemian Rhapsody, mas que tem tido dificuldade para ir além do “biquinho” em suas atuações.  

Eles são Joe Deacon e Jim Baxter. O primeiro é uma lenda do Departamento de Homicídios de Los Angeles, que saiu de cena e agora vive pacatamente como assistente do xerife do condado de Kern, a cerca de 200 quilômetros da "cidade dos anjos". O novato tomou seu lugar e está pressionado a capturar o assassino da faca. Deacon vai a LA coletar a prova de um crime, e o que era para ser um bate e volta se alonga quando Baxter abre espaço para que ele o ajude na investigação.

Muito mais comum em filmes do gênero é se ver rixa e competição entre policiais. A dinâmica entre Deacon e Baxter começa tensa, mas logo vira colaboração. Com eles em campo, o enredo insere flashs do passado para desvendar a trágica razão do colapso mental que fez Deacon perder o casamento, o emprego e se isolar no interior. Ele vê que Baxter vai pelo mesmo caminho da obsessão e faz o alerta. Em 2019, o diretor forjou uma parceria formidável entre Kevin Costner e Woody Harrelson no superior Estrada Sem Lei, sobre os detetives que descobriram o paradeiro de Bonnie e Clyde. Washington e Malek dão liga. O que falta em Os Pequenos Vestígios é um vilão menos óbvio.

Vencedor do Oscar de coadjuvante por Clube de Compras Dallas, Jared Leto foi indicado ao Globo de Ouro e ao SAG Awards (sindicato dos atores) na mesma categoria pelo manipulador Albert Sparma, que pode (ou não) ser o criminoso. Leto usa lentes escuras nos olhos, cria uma voz, um andar e todo um gestual para esse sujeito muito suspeito. Faz sua parte, mas o também roteirista Hancock descuida do perfil psicológico do personagem e arma um confronto final nada crível. Sorte que Denzel Washington fecha o filme com um “pequeno vestígio” revelador.

Ficha Técnica

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