Estrada Sem Lei

A expressão não existia, mas os bandidos Bonnie e Clyde eram autênticos pop stars nos Estados Unidos dos anos 1930. Ditavam moda, provocavam histeria por onde passavam (mesmo que em fuga), morreram de forma cinematográfica e tiveram funerais dignos de celebridades. Abalada pela crise de 29, a população encarava os notícias sobre os pombinhos como entretenimento escapista, sem (querer) tomar consciência do rastro de sangue que deixavam pelo caminho.

Eles se eternizaram no cinema na pele de Faye Dunaway e Warren Beatty em Bonnie e Clyde: Uma Rajada de Balas (1967), dirigido por Arthur Penn. Também foram objeto de documentários e ganharam o mundo das séries em 2013, com Bonnie & Clyde, estrelada por Emile Hirsch e Holliday Grainger, indicada a quatro prêmios Emmy e disponível na Netflix. Após três filmes baseados em fatos reais, Um Sonho Possível (2009), Walt nos Bastidores de Mary Poppins (2013) e Fome de Poder (2016), o diretor John Lee Hancock segue na mesma linha com Estrada Sem Lei, a história da perseguição e morte de Bonnie e Clyde, em 1934. A imagem do jovem casal abatido a balas no carro tornou-se famosa, mas a história por trás dela, quase desconhecida. Até agora. 

Desafiada por um resgate de presos capitaneado pela dupla, Ma Ferguson (Kathy Bates), primeira mulher a governar um estado americano, o Texas, recorre a dois Texas Rangers aposentados para a captura, face ao fracasso de sua força policial na empreitada. Assim, Frank Hamer (Kevin Costner) e Maney Gault (Woody Harrelson), munidos de algumas armas, um carro pouco confortável e muita experiência entram em cena. Hamer é o durão esquentado, bem de vida. Gault é o mediador beberrão, fracassado. Os dois estão sempre um passo à frente da polícia e dos agentes federais, e um passo atrás dos criminosos, embora cada vez mais próximos.  

O diretor Hancock imprime um ritmo de road movie à produção. A paisagem árida e melancólica, filmada na Louisiana, ganha contornos contemplativos na belíssima fotografia de John Schwartzman (Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros). Kevin Costner e Woody Harrelson brilham como Hamer e Gault. Afinal, dentre tantos homens da lei que interpretou, Costner foi Eliot Ness, o agente federal que liderou a equipe que prendeu Al Capone, no já clássico Os Intocáveis (1987), de Brian de Palma. E Harrelson vem da primeira temporada da elogiada série True Detective, e do premiado Três Anúncios para um Crime. No filme, no entanto, o peso do tempo sobre os protagonistas é visto como decadência, mesmo frente à inegável tradução em experiência. Um aviso contundente de que o passado e a história ainda têm muito a ensinar. 

Ficha Técnica

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