Giacomo Casanova (1725-1798) tornou-se sinônimo de conquistador e bon vivant na história da literatura, a partir de 1825, data da publicação póstuma da sua autobiografia A História da Minha Vida, com as memórias de inveterado sedutor. É justamente no período em que ele se dedica a escrever suas memórias, já nos últimos anos de vida, que começa a mais recente produção do diretor Benoît Jacquot (O Diário de uma Camareira), O Último Amor de Casanova. Falido e solitário, o ilustre veneziano é acolhido pelo conde Waldstein como bibliotecário do Castelo de Dux, situado na Boêmia (atual República Tcheca).
Visitado pela jovem Cécile, a quem deveria auxiliar nos estudos de filosofia, Casanova (Vincent Lindon, Em Guerra) conta, a pedido da aluna, as memórias sobre as quais escreve. Quando ela lhe pergunta se, em meio a tantas aventuras amorosas, amou alguma vez, um cansado e amargurado Casanova narra a história de seu encontro com Marianne de Charpillon (Stacy Martin, Amanda) durante seu exílio em Londres há 30 anos, no auge da sua vida. Apesar de muito jovem, Marianne já era conhecida como La Charpillon, prostituta e acompanhante da aristocracia inglesa.
Narrado em flashbacks, o jogo de sedução entre os dois tem como pano de fundo uma aristocrata Londres descortinada aos olhos de Casanova com todas as suas contradições, ambiente propício para os encantos do conquistador. No entanto, La Charpillon se entrega a qualquer um, menos a Casanova que, presa fácil tomado pela paixão, aceita a proposta de um “noivado” recatado de 15 dias antes da consumação sexual. Quando finalmente, com requintes de crueldade, o conquistador é descartado, a paixão lancinante o faz pensar até em suicídio.
O roteiro, escrito a oito mãos, com a participação de Jacquot e Chantal Thomas, autora de um livro sobre Casanova, reproduz nos diálogos e fatos os costumes do século 18, e a produção e o elenco os acompanha com primor. Mas é a direção de fotografia quem se encarrega de revesti-los de uma aura de sombras e tons quentes, como se mimetizasse na tela o íntimo do casal e seu embate por uma intimidade utópica. Jacquot não só surpreende com a narrativa de desconstrução de um mito da literatura como transcreve para seu filme um registro do inacabado, esse tão comum aos obscuros objetos do desejo.
Trailer
Ficha Técnica
TÃtulo: O Último Amor de Casanova/Dernier Amour
Direção: Benoît Jacquot
Duração: 98 minutos
PaÃs de Produção/Ano: França, 2019
Elenco: Vincent Lindon, Stacy Martin, Valeria Golino, Julia Roy, Christian Erickson, Nathan Willcocks, Nancy Tate, Anna Cottis
Distribuição: Califórnia Filmes