O Quebra-Cabeça

Agnes (Kelly Macdonald, Adeus, Christopher Robin) tem 40 anos, dois filhos crescidos e um marido trabalhador. Mas seu visual e suas ações parecem os de uma senhorinha pacata e religiosa dos anos 50. A sequência inicial de O Quebra-Cabeça é um painel esclarecedor da rotina dessa mulher que vive para servir os outros e sai de casa apenas para fazer compras e rezar.

Talvez o público jovem se incomode com o perfil antiquado da protagonista, mas o drama de Agnes, presa em uma bolha doméstica, provoca empatia no espectador mais maduro, que herdou da geração de 68 as conquistas sociais que tantas portas abriram para as mulheres do novo século. Curiosamente, o desejo da personagem de tomar as rédeas da própria vida toma a forma das peças de um quebra-cabeça que ela ganha de aniversário.

O passatempo desperta um entusiasmo inédito e acaba por colocá-la em contato com Robert, um indiano podre de rico que participa de competições de quebra-cabeças. Interpretado por Irrfan Khan (Talvar), morto precocemente de câncer neste mês de abril, aos 53 anos, esse homem excêntrico e solitário vai se encantar pela moça inocente.

O diretor Marc Turtletaub é mais conhecido como o produtor de filmes centrados na família, entre eles Pequena Miss Sunshine e Mais Forte que Bombas. Nesse remake de um sucesso argentino, Rompecabezas, ele examina as mudanças tanto no núcleo familiar quanto no íntimo de Agnes. As peças se encaixam, mas não há soluções fáceis em O Quebra-Cabeça, e muito menos na vida real.

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