O Pior Vizinho do Mundo

O Pior Vizinho do Mundo tem arrancado lágrimas mundo afora. É emocionante mesmo. Tom Hanks é coprodutor e o protagonista, Otto Anderson, um viúvo metódico e rabugento que fiscaliza e atazana os moradores da rua fechada em que vive. É o tipo do sujeito mesquinho que briga com a caixa do supermercado por conta de trocados. Mas nem sempre foi assim. O diretor Marc Forster (Em Busca a Terra do Nunca) entra no modo agridoce para esmiuçar esse personagem nascido nas páginas do best-seller Um Homem Chamado Ove, do sueco Fredrik Backman, relançado no Brasil pela Rocco.

Em 2017, a adaptação sueca concorreu ao Oscar de Filme Internacional. A versão hollywoodiana não chega a ser digna de prêmios, mas é uma obra delicada sobre o sentido de viver. Aposentado na marra, Otto decide que é hora de se reunir com sua amada, falecida há alguns meses. Não há nada de impulsivo nesse processo, planejado discreta e cuidadosamente. Só que o acaso - ou o destino? - cria um empecilho natural, na forma da recém-chegada vizinha Marisol (Mariana Treviño), mãe de duas crianças, grávida e casada com um cara atrapalhado, mas totalmente do bem. Essa divertida trupe mexicana vai injetar novos sabores na dieta e na rotina do invocado Otto.

O enredo alinhava outras tentativas de suicídio do protagonista com a dinâmica da vizinhança no presente e no passado. Assim conhecemos o jovem Otto (interpretado pelo filho do ator, Truman Hanks) e sua adorável esposa Sonya (Rachel Keller), o casal de melhores amigos Rueben (Peter Lawson Jones) e Anita (Juanita Jennings), e as circunstâncias que transformaram essas relações e o tornaram um homem amargurado. Até um gatinho entra na trama, como todos os animais, para apaziguar e fazer companhia.

O diretor Marc Forster tem um trunfo e um obstáculo em seu astro. Assim como James Stewart (Do Mundo Nada se Leva), Tom Hanks moldou para si a imagem de bom moço, eternizada em todos os gêneros: a comédia Quero Ser Grande (1988), o romance Sintonia de Amor (1993), o épico Forrest Gump (1994), o drama de guerra O Resgate do Soldado Ryan (1998) e, não poderia faltar, o caubói Woody na saga de animação Toy Story. O mais perto que chegou de um vilão foi como o magnata de tecnologia em O Círculo (2017) e no recente Elvis (2022).

Mesmo nos momentos mais intragáveis como Otto, há uma doçura no olhar de Tom Hanks que desmente as feições sisudas. É inevitável antecipar o que há por trás da carapaça ranzinza, diferente da aversão provocada pelo personagem na produção sueca, estrelada pelo desconhecido Rolf Lassgård. Isso compromete O Pior Vizinho do Mundo? Não, mas diminui o impacto. Pelo menos para esta crítica crica, a mesma que não segurou as lágrimas no tocante desfecho.

Ficha Técnica

Assista Agora!